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sábado, 29 de dezembro de 2007

Sempre assim (2000)

Sempre assim. Todos os dias a nossa atenção recai sobre a mesma coisa, o mesmo problema, o fulcro da questão, não nos deixando evoluir, porque estamos a tentar superar sempre o problema que não é ultrapassado. Um ciclo que não parece ter fim.

            É à luz de uma lâmpada frouxa que as ideias flúem. Faz-se uma pausa quando calha, não se sabe a sua duração. Também é preciso apreciar o vazio, e ele é grande.

            Cada um é único e irrepetível. Cada um tenta passar desapercebido, no meio dos outros, sinal que não é diferente, e ao mesmo tempo tem o desejo de ser (re) conhecido.

            Lembro-me daqueles dias chuvosos ou ensolarados, frios ou quentes, em que passo na cama a ouvir estas músicas [os sons da minha vida].

            Lembro-me daquelas noites em que a inspiração vinha e até parecia que dizia alguma coisa com sentido… no papel.

            De lembranças sou feito, boas e más, como as de todos.

            Lembro-me…

            de que todos os dias me parecem iguais, não passo da cepa torta.

            […] do que perdi, e que tanto sentido deveria ter, mas que se perdeu para sempre. ]

            da imposição do ‘EU’ por parte das pessoas perante os outros. […] Os ‘EUS’ estão sós e querem afirmar-se.

            Porque será que exteriormente estamos a mudar e por dentro continuamos na mesma?

            O mundo é composto de tantas pessoas que facilmente um é esquecido.

            Tantas e tantas ideias que flúem na mente não se conseguindo verbalizar coerentemente. É tremendamente cansativo sentir o mundo com esta intensidade desmesurada e não conseguir dar-lhe vazão, é só absorver os estímulos que nos rodeiam.

            E tu? Entras plácido por entre essas janelas fechadas, irrompes pela cozinha adentro como que trazendo uma mensagem do infinito, neste preciso momento. És um sinal para mim. Tal como tu neste momento, os sinais sucedem-se noutras ocasiões, a quem os entende. Sinais despercebidos ao comum dos mortais. Um brilho de um raio de sol numa ocasião espaço - temporal impensado. E a minha razão pensa em probabilidades dos acontecimentos. A probabilidade desse momento foi única, é um sobre infinito. Tenho pensado, por vezes, em que um acontecimento pode influenciar outro acontecimento num lugar mais ou menos próximo de onde se deu o primeiro , por hipótese. Todos somos influenciados pelos outros assim como nós os influenciamos, o mesmo sucede com os actos que fazemos.

            Vejo a minha vida a passar em relances perante os meus olhos. E o que vejo é uma luta constante entre o optimismo e o pessimismo [ de relances é composta a minha vida].

 

 

 

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Dia Glorioso

            Neste Dia Glorioso, que nasce com todo o seu esplendor, entro no cubículo da minha alma, onde mora a minha dor. Este sítio recatado, sombrio e frio, onde eu moro e tenho vivido grande parte dos meus dias, nunca ninguém lá entrou, ninguém me conhece. Por uma janela, plena de esperança, raiam com fulgor alguns fotões que penetram ao fundo do espírito demonstrando uma esperança cada vez mais débil, assim, como o passar do tempo. E eu daqui, altivo como um Deus, no abismo mais profundo, renovo o meu sentir, alargo o meu olhar. Eu estou firme no meu posto, mas vacilo a cada passo que tento dar, como se cego eu fosse. Sei que o meu Dia está próximo, fujo dele a 70 vezes 7 pés, mas ele cerca-me para onde quer que eu me dirija. Trago o trunfo na manga, aquele que eu estarei prestes a deitar, quando a vida me quiser completamente sufocar. Trago a noite do Universo num dos meus bolsos, aquela imensidão que me há-de acalmar, o dia terreno que é límpido e colorido no outro, para alvarmente me cobrir e a tua conduta enganar.

Por ti estou aqui, hoje. Sim, por ti. Por tua causa eu estou aqui, agora, Glorioso como o despertar, rarefeito como o sol – pôr, momentos únicos que jamais irão voltar de tão presentes se encontrarem. Tu, que de dor me fazes jorrar, e mesmo depois de o sangue se esgotar, ainda água terei para dar. Sim, crucifica-me. Eu vejo a ira que vai na tua alma, filho da desgraça, porque antes de teres nascido já Ele o era, e eu mais não sou que um suspiro da Sua imensidão, incomensuravelmente pequeno e finito, mas com uma ambição, de ao lado direito Dele ficar, na expectativa de ver a justiça do Seu sofrimento te açambarcar. E mesmo assim, apesar de tudo, amo-te, amo-te como ninguém jamais te amou, mas foi precisamente isso que me trespassou. Em todo o amor que demonstras sem fim, toda a ira que em ti mora por mim, é revelada mesmo sem dizeres nada. Eu não vejo, eu sinto, e a quem sente jamais podes enganar, somente a quem se fia no olhar. A aparência é que te dá poder, é que te faz, mesmo, mover? Pois eu digo-te é por ela que tu irás sofrer. Tu sofres por o que vês, és falso. Eu sinto, pelo que sofro…

Mas há mais. A tua indiferença faz-te forte, o teu sadismo dá-te prazer, mas ainda há uma palavra a dizer, antes que se esgote este alvorecer. Pai, eu faço parte da natureza que me envolve, da imensidão que jamais conseguirei abranger, mesmo com o meu sentir infinito. E não posso pactuar com a conduta de quem dessa natureza me quer afastar, dessa crença profunda que de mim jamais alguém irá arrancar, os meus inimigos, alvos a desvendar e a destronar, porque ninguém é Rei senão Tu, eterno e perfeito, porque acredito que Tu és o Bem – eu sei-o, porque eu vi o mal – Tu és o equilíbrio, e ai reside a perfeição, Tu és a essência da vastidão. E eles, castelos na areia, reis da destruição da harmonia, marginais sós, que culpam outros seus irmãos pela sua própria condição, que se rebelam contra Ti, fonte de toda a criação, como se em Ti morasse a culpa da sua falta de orientação. Por ti, pai, eu estou aqui, mas já estava escrito nos astros, a minha passagem por este mundo, e já está escrito no mais profundo do vácuo o meu destino. E o meu destino é Ele, Ele faz parte de mim, eu sou uma ínfima parte Dele, igual a tantos outros como tu, na minha massa, mas dos maiores na descoberta Dele. Eu tentei fazer-te meu amigo, tentei mostrar-te onde erravas. Porque me fechaste a porta? Porque me revoltaste contra a natureza que me envolveu e me acolheu e me fez crescer, aprender, e me alimenta e me faz sobreviver? O teu egoísmo há-de destruir-te, pois as aparências enganam.

Inimigos, achais-vos superiores? Achais que eu é que estou errado? A erva daninha prospera nos solos, mas a beleza não é destruída por ela, a beleza transcende o óbvio. Caí por terra enquanto é tempo, vê -de o mal que fazeis, não sigais contra o que de genuíno sentis, acreditai no regresso à inocência. Podeis vencer esta guerra contra mim, mas nunca vos será perdoado a perda que provocares, o Equilíbrio que me rege será a vossa destruição e ninguém mais terá culpas disso, a não ser vós que não acreditastes. A culpa reside naqueles que lhes foi Mostrado e não acreditaram.

Saco do meu bolso, este meu dia terreno e lanço-o sobre vós. O Dia Glorioso está à vossa frente, defronte de mim somente, é uma questão tempo, se houver medição para esta passagem. A luz foge, mas ainda me resta o meu outro bolso…

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Mundo actual: Independência, individualismo e egoismo

                   Concordo que o mundo actual seja de uma maneira geral, principalmente a parte do mundo economicamente e socialmente mais desenvolvida, egoísta e individualista. Penso mesmo que talvez seja o individualismo que pode despoletar o egoísmo. Acho que é a ‘independência’ o conceito primário que traz consigo esse individualismo e de seguida como efeito secundário, pode-se assim dizer, o egoísmo. Temos que por definição que INDEPENDÊNCIA significa liberdade, autonomia; INDIVIDUALISMO significa isolamento do indivíduo num conjunto ou sociedade (1) ou ainda é uma teoria que sustenta a preferência do direito individual ao colectivo (2); EGOISMO significa amor exclusivo da sua pessoa ou dos seus interesses. Não será propriamente na ' independência ' que está o mal ou onde reside o problema. É bom que cada ser humano tenha independência, independência social e económica, isso faz parte do direito natural que o ser humano tem que é o de ser livre, ter liberdade, e isso não existirá sem a tal independência. Para mim não pode haver ' individualismo ' sem ' independência '. E dada a independência que o mundo moderno vai permitindo a cada vez mais gente, o individualismo tornou-se num caminho fácil de seguir, há mesmo uma cultura do individualismo. Segundo a segunda definição que está em cima e que encontrei no dicionário (2), realmente estamos num mundo economicamente evoluído em que o direito individual é exacerbado, muitas vezes como se uma pessoa (certas pessoas) tivesse (tivessem) mais direitos que o seu próximo. Existe todo um antropocentrismo que continua a crescer e que tende a transformar a ‘independência’ necessária de cada homem num individualismo egoísta. O ser-se individualista, segundo a primeira definição (1), deveria ser na maioria das vezes uma opção que deveria ter cada pessoa independente segundo a suas características pessoais (personalidade, outras). Mas nas sociedades mais avançadas isso tornou-se na única opção a que as pessoas têm que aderir dada a cultura do individualismo que se instalou e que depois transforma muitas pessoas em egoístas (por isso digo que o egoísmo é um ‘efeito secundário’). É essa cultura a que promove o egoísmo em vez do altruísmo, essa cultura que leva as pessoas a olhar só pelos seu interesses, que podem passar pela satisfação de acumular bens e/ou explorar e/ou passar por cima de outras pessoas sem olhar a meios e que leva a que não se ame o próximo abnegadamente, a que se olhe o próximo como objecto (mais um nas suas vidas). Dentro desta cultura estão pessoas (em minoria com certeza) que não se adaptaram ou não se adaptam e que têm um défice mais ou menos acentuado de independência social (acompanhado muitas vezes de défice de independência económica, o que piora as coisas) e que leva a que se auto – marginalizem e/ou que os marginalizem a outra parte da sociedade (os que estão integrados na cultura individualista egoísta por exemplo). Daí que as pessoas da outra parte pareçam egoístas (porque na realidade há efectivamente muitos que os são) a quem está na minoria. Mas há também muita gente individualista altruísta, só que muitas vezes só vemos o lado obscuro dos conceitos. Tudo está em nós, na maneira como nós sentimos. Muitas das vezes somos nós que nos sentimos mal e afastamo-nos dos outros sem nos aperceber e somos nós que estamos a ser egoístas e parecem ser os outros a sê-lo. Há que ir aprendendo com o tempo a interpretar as coisas como elas na realidade são, a separar o trigo do joio, o bom do mau. Ser-se independente é um direito, pelo qual devemos lutar. Apesar de haver uma cultura individualista predominante, também existe o oposto, uma cultura sociável. Ser-se sociável egoísta ou sociável altruísta, individualista egoísta ou individualista altruísta é uma opção que depende de vários factores intrínsecos e extrínsecos e somos o que somos por causas que nos ultrapassam. E para dizer a verdade, acho que tem de haver de tudo no mundo. Não paremos de procurar o nosso lugar no mundo que pode hoje ser aqui, como amanhã noutro lado.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

tradução das Tags mais importantes do meu blog

 EU tenho um PASSADO repleto de SENTIMENTOS que produzem QUESTÕES e PENSAMENTOS por vezes de uma maneira TRISTE da VIDA. Este é o meu BLOG.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Dias [8 de Março de 2002]

    







            “Ouvre la porte et rêve....”, Daniel Hechter. Abro as portas do passado e revejo, entre névoas vespertinas, aquilo que sou e aquilo que fui. A primeira ideia que me surge , frente aos meus olhos, era o ideal utópico que me movia: a busca da perfeição. - Talvez um objectivo demasiado alto e que me tem saído caro. Quis subir sem olhar ao equilíbrio, à estabilidade dessa subida e às tantas caí nas malhas tecidas pela vicissitude da vida, na dura rocha da realidade - Pensei que seguia o caminho certo, e falhei.


       Tudo tinha vida para mim, as penedias dos campos, o ar que respirava, a terra que absorvia com o olhar, só que... na realidade, não tinha amigos. Não convivi suficientemente com pessoas -Só consigo pensar negativamente...tenho que ver as coisas boas da vida. Mas em cada veleidade surge-me a antinomia.


   Recomecemos, sem pressas - Tudo o que escrevo é como alguém que me fala, apesar de isto ser um solilóquio. Solilóquios é o que sei fazer. Mas recomecemos, recomecemos até tudo ficar como a gente quer.


        Estava um dia quente de Verão, não sei a temperatura, na altura não sabia ver temperaturas, não sei se já teríamos termómetro em casa, mas a certeza de que estava um dia quente isso estava, pois desde que há memória todos os Verões são quentes, mais ou menos. Estávamos no primeiro dia do resto da minha vida.


Era tempo de renovação da esperança, como em todo o tempo em que mais uma vela se acende na vida. Mas esta não tinha chama viva , era uma chama bruxuleante que teimava em não vacilar. E essa chama tornou-se viva, pelas tagatés que o sol emanava, pelo afago que a brisa do vento trazia, pelas lágrimas que foram derramadas pelas nuvens, pela força do calor que traz a vida em si,  como uma potencial semente de centeio a germinar em terreno escabroso. Já mais tarde quando a espiga aflorou, depois de muitas noites passadas ao relento, longe da gregaridade da vida, tendo só a Lua e as estrelas como companhia, chegou a hora de ver a luz do dia. E o dia alvoreceu num mar de brumas, como se o dia fosse a noite, tendo a noite como dia. Mas o tempo não parou por haver tal choque, e a espiga deu as suas sementes que se disseminaram para o novo ano que viria inexoravelmente.     


            Passados 5 anos, caminhado por entre córregos e roças, assim se passou a segunda parte da cena. Dias mais aprazíveis se encontraram, nesta parte. Reminiscências, trazem ao de cima dias passados com o garotio, ora com uns ora com outros. Um dia com uns a guardar cabras, outro eu a guardar uma cabra, sozinho. Outro a deslizar alegremente no gelo desde manhã até já plena tarde com outros, sem almoçar - até a gente se esquecia -. No Verão aquelas idas até à ribeira tomar um banho e as escapulidas que fazia frequentemente até casa dos meus primos. Mas sempre aquele sentimento de nunca estar pleno de gregaridade.


        A terceira parte da cena leva-me à socialização. Mais 5 anos desde então, tudo corria de vento em popa, lá de burro eu não tinha nada! E nesta fase passaram 8 anos. Todo o meu mundo crescia aos poucos - O meu mundo sempre cresceu muito devagar -. Neste decurso conquistei cerca de 30 km de terreno, singrando dia após dia, em autocarros barulhentos, uns com mais lugares, outros com menos, uns mais bonitos do que outros. Vi crepúsculos do alvorecer e do anoitecer, vezes sem conta. Vi geadas e neve a cobrir os campos, vi-os a esverdear e florir. Tudo fluía suavemente. Sonhava com os dias de neve em que tinha que ficar em casa e não ir para aquela rotina que era a escola. E parece mesmo que era fruto do desejo, em tempo propício, aquela neve que vinha, cobrir alvarmente os campos e extasiar a alma trazendo a calma. Mas também me lembro de sentimentos maus que me vinham povoar a alma taciturna. Do fundo do âmago vinham-me emoções desmedidas que eu não conseguia compreender - Relembro-me agora que a primeira fase foi infrutífera socialmente. Aquele vazio que me arde constantemente nas vísceras -. O isolamento ia galopando, a minha vida era escola e casa, apesar daquele manancial teórico que tinha da vida, faltava-me o expediente prático. E foi no culminar desta fase que tudo passou a ser menos risonho. O medo de encarar a vida, isto é, as pessoas, surgiu. E procurando colmatar esta sensação de vazio, esta confusão de não compreender, eu procurava compreender e comecei a correr - a fugir direi eu agora -, distanciando-me cada vez mais de mim próprio. Chamei por alguém no vácuo da noite e nem o eco consegui ouvir para me alentar. Refugiei-me nas bebidas inebriantes onde tudo tentava esquecer, tudo o que sofria, mas acabei por começar a esquecer os bons e os maus momentos. Isto na fase de transição para a 4ª parte da cena.


Nesta parte tudo é sensabor. A noite como refúgio e o dia como pranto, onde a alma anda a monte,  já faz muito tempo. Pouco há para dizer. Resta repetir que fugir é o mote que me faz mover, distanciando-me cada vez mais de mim, devagarinho. Fujo de mim, não encontrando ninguém que me dê a mão. Quando ma estendem recuso-a, porque não acredito na boa vontade dos homens - Mas ao dizer isto nego a faceta positiva que está em marcha. Fui eu que me meti nisto, sou eu que vou ter que sair disto, devagarinho, tendo sonhos cor-de-rosa pela frente, para ser mais fácil -.






Dias [24-01-01]

Dia não são dias, diz-se . Hora não são horas e minuto não são minutos, digo. A perda de um segundo prolonga-se por tempo indefinido consoante a perda for grande ou pequena. O que passou, passou. Deverá pelo menos ser assim. A dor tem que passar mais cedo ou mais tarde. E diz-se ainda que o pouco espanta e o  muito quebranta. Tudo passa mais tarde ou mais cedo nem que os dias pareçam anos, da melhor ou da pior maneira, ou  melhor o pior nem chegará a existir, existe apenas o menos bom, a que chamamos “pior”. Seja como for a relatividade de Einstein estará sempre em voga, para mim, eu que agora estou bem para num momento a seguir estar menos bem e dizer que estou pior. Os dias passarão...

quarta-feira, 10 de outubro de 2007

Josh Groban - You Are Loved (Don't Give Up)



Don't give up
It's just the weight of the world
When your heart's heavy
I...I will lift it for you

Don't give up
Because you want to be heard
If silence keeps you
I...I will break it for you

Everybody wants to be understood
Well I can hear you
Everybody wants to be loved
Don't give up
Because you are loved

Don't give up
It's just the hurt that you hide
When you're lost inside
I...I'll be there to find you

Don't give up
Because you want to burn bright
If darkness blinds you
I...I will shine to guide you

Everybody wants to be understood
Well I can hear you
Everybody wants to be loved
Don't give up
Because you are loved
You are loved

Don't give up
It's just the weight of the world
You are loved

Don't give up
Everyone needs to be heard
You are loved



terça-feira, 9 de outubro de 2007

caminhando

    Falo para ti, humanidade, que caminhas por veredas, nas íngremes encostas que te abordam, de um lado o apoio que te segura para a vida, no outro o encontro com o abismo. Mas esse é o teu caminho, essa é a tua senda nessa ladeira sem fim à vista. E não és única, todos temos o nosso trilho. Há que seguir, não há volta a dar, segue o que sentes, conhece-te a ti própria, vai de encontro ao que te espera, o cume da vida, aquele que será o sítio onde irás repousar ou … desiste e o outro lado irás encontrar. Eu conheço-te, mesmo tendo visto tão pouco de ti, talvez mesmo já as estrelas te conhecessem antes de tu as conseguires vislumbrar. Sei que não irás ter medo do nevoeiro que te envolverá, da chuva que fará deslizar as terras e te provocará, para a morte que do outro lado está. A fuga é tão fácil, a escalada é tão difícil... Atalhos se encontrarão certamente, nessa marcha ousada de se efectuar, e dias de sol a brilhar, com temperaturas amenas no ar. Sem esquecer: há que saber aproveitar, levar o brilho e recordar, as palavras daquele astro, que do infinito nos ilumina irradiando as suas múltiplas cores todas juntas numa só, a cor que te irá salvar, o alvo, que tão pouco existe…mas ele está lá. Tão certo como eu estar aqui agora, como estas palavras que nada dizem a quem nada quer entender, só com o fim de preencher o caos que afinal está em equilíbrio. Encontra o teu, não olhes para trás nem para baixo, soergue – te até não mais poder, felicidade ainda vais ter, só tu irás ver.

domingo, 30 de setembro de 2007

Conversa de um Ensimesmado (2003)


          [Demasiado concentrado em mim] Ensimesmado, assim ando sempre. Faço um esforço enorme para tentar sair desta concentração doentia. E a verdade é que não consigo sair dela, não consigo traduzir verbalmente as ideias que passam pela minha cabeça, não me consigo exteriorizar. É como se estivesse bloqueado. E quando tento exteriorizar-me é como se estivesse a arrancar alguma coisa do meu interior, a custo. Na minha mente passam pensamentos que diria anti-sociais, sou averso ao convívio social. Criei-me muito afastado do conceito social, talvez daí esta minha aversão, sinto-me melhor sozinho. Os meus pensamentos são profusos, intensos, mas muito misturados o que os torna confusos. Na minha cabeça passam pensamentos do tipo: “ninguém pode parar a evolução da humanidade.”; “Não tenho fé nos homens, vejo o seu futuro com pessimismo.”; “ vejo injustiças que nunca terão fim, homens que trabalham duramente a troco de um punhado de dinheiro e outros a usufruírem do trabalho dos primeiros, com uma vida fácil.


            Quando tento abrir a boca acho que não digo nada de jeito, nada de interesse. Raramente vejo o meu futuro com optimismo, penso mesmo que jamais serei normal, ou melhor, jamais me sentirei normal. Conheço-me bem, e sei que não sou como os outros, mas não aceito essa diferença. Queria partilhar valores com os outros, mas os meus valores não são iguais aos do ambiente social em que vivo, parece-me mesmo que nem tenho valores. Compreendo cada vez mais a minha situação mas estou mais impotente para lutar contra ela à medida que o tempo passa. Tenho medo da loucura. Às vezes penso que devia fazer uma loucura, mas falta-me a energia. Não me queria apagar, passar por esta vida sem ser reconhecido socialmente, e essa é uma meta que a maioria das vezes me parece impossível. E esta insatisfação corroí-me, ter constantemente a minha mente com pensamentos de que sou inferior, de que não sou capaz. E há momentos em que a dignidade parece-me fugir. Sinto-me humilhado em mim próprio, e sei que não há razão para isso, ou haverá?


            Para que sinto o mundo da maneira que sinto, tão intensamente? A minha percepção corporal ou física do mundo anda distorcida. Ou será o mundo exterior a mim que anda distorcido?


 

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Gritos e visões

20 de janeiro de 2003


        


                           


 


                   Há um grito em mim, não sei se mais alguém sentirá assim. Há um grito que não sai, que soa tão alto dentro de mim. Há uma compreensão desmedida que tem a minha mente entupida. Há um grito de compreensão que teima em sair para o universo, o vácuo do silêncio. Grito nas alturas, procuro clareza na visão, que me é só negra em toda a sua imensidão. Vejo uma luz ao fundo do túnel, não há esperança em vão. Penso, não coerentemente, eu sei, mas eu não consigo pensar assim, que será de mim? Deixa pensar quem pensa, e penso em tantas coisas que não consigo levar uma até ao fim. Penso, no destino, na pequenez do homem, fisicamente, perante um universo tão grande que nele encerra na sua mente. -“I love you, I’ll kill you”- Porque nos magoam quem mais amamos? Será que isso é apenas uma impressão nossa ou realmente eles magoam-nos? O nosso bem-estar psicológico depende só de nós (da nossa mente) (1), ou depende só do exterior (2), ou será uma síntese dos dois meios (3)? Situações: Estão a apontar-nos uma arma. Depende de (2), neste caso; Em relações sociais dependerá de (3), há uma interacção entre o que nos fazem sentir os outros e o que sentimos; Sozinhos, dependerá exclusivamente de (1). Será assim?


            Vimos do vazio, do nada, o nirvana. Na nossa mente, quando não influenciada por meios exteriores sociais, o bem-estar depende dos conceitos que temos na nossa mente acerca do mundo. E porque estamos sozinhos? Queria dizer, porque estamos aqui? Será que só quem sabe tem grandes discursos, que é capaz de dissertar sobre um assunto, que é capaz de dialogar com grande clareza de raciocínio, é que é feliz, é que tem o direito de viver? Eu sei que o digo não é coerente, já o disse, mas meu raciocínio é um pouco estranho, funciona por flash’s, até já me rotularam de doenças que já nem quero pensar, mas não só, já me rotularam de tanta coisa...O problema é que isso me afecta, não consigo evitar, principalmente quando até a minha própria família consente tal. Afinal que terei eu? Não consigo formar uma imagem exterior de mim. Conheço-me muito bem interiormente, mas visto com outros olhos, não me consigo ver.

segunda-feira, 27 de agosto de 2007

Bate como quem chama por mim

17-01-04


 


 


                        Bate como quem chama por mim, o tempo, a música, gente, qual será? Não é nada, apenas o pensamento a querer ser traduzido, ser exprimido. Sou sincero, neste momento não tenho emoções a flor da pele, como se eu já não tivesse sentimentos. Mas já os tive, já chorei, já tive alegria infinita, já tive outras maneiras de sentir o mundo. Estou a passar mais uma fase de compreensão, uma fase de estabilidade. Um assalto de visões percorrem o meu pensamento em certos momentos. O passado não desapareceu, construo momentos, nessas visões, através da associação de ideias e dessas vivências passadas. Sereno, assim me imagino, como gostava de ser. Gostava de ter a certeza das coisas, mas  ela não me pertence, portanto a serenidade é perene. Tenho sim, grandes perspectivas da vida, analiso-a do  maior numero de ângulos possíveis.


            Temos que ter maus momentos para saber identificar os bons momentos. O Ano  Novo começou, mas  nada mudou subitamente. Tudo muda gradualmente. Os sonhos, esses, renovam-se alguns, persistem com menos intensidade outros, aparecem outros. Visionário, é o que eu sou. Um ser que caminhava na busca da perfeição, mas que caiu na dura realidade que é ser-se constituído de matéria perene que é este nosso corpo o qual não controlamos. Como podemos ser perfeitos nesta vida passageira que passa sem esperar que a gente ultrapasse todas as fases integralmente. O Ser Humano não é perfeito, é funcional, isto é, faz coisas funcionais mas não perfeitas.


            Eu quero, eu vou fazer algo. Não podemos parar enquanto estamos vivos. Não posso mudar o mundo fisicamente, deparo-me com contingências que não controlo. Queria libertar-me, queria não ter de novo a consciência de ter consciência, queria ser um produto da natureza e agir naturalmente. Certezas não as tenho, mas tenho esquemas funcionais que me permitem interpretar o mundo e compreendê-lo, podia dizer que são as minhas leis. Toda a gente as tem, e quanto mais velhos mais elas se enraízam em nós à medida que envelhecemos. O porquê das coisas, o eterno porquê, por que  razão acontecem, porque sofre quem tenta ser perfeito? A vida é um mistério. O sonho ultrapassa a nossa vida, o sonho ultrapassa o mistério, o mistério é o sonho, o sonho faz o mistério. O sonho são as nossas asas, o sonho dá-nos asas, ele faz-nos voar e conhecer novos mundos. O homem vive submergido no sonho. O sonho comanda o homem, mas destrói a realidade, sem ela o sonho não existe. Há que acordar para a realidade antes que seja tarde de mais.


 

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Titulo

 


Nunca começar pelo título. Ou começar pelo título? Eis a questão. Começar por pôr um título, é ter à partida uma ideia daquilo que se vai dizer. Se não se souber do que se vai falar é melhor não começar pelo título, primeiro expor o assunto e depois dar-lhe um título. Tantos temas que me passam pela cabeça e não sou capaz de desenvolver nenhum. Surgem-me associações de ideias, não sou capaz de me fixar a uma só e desenvolvê-la.


        Haverá alguém que goste mais do outro do que de si mesmo?  Tanto como a si mesmo? Eu, eu... eu não sei que estou para aqui a escrever. Sinto-me confuso, estou bloqueado. Tenho saudades daquele tempo em que escrevia e dizia alguma coisa de jeito. Não sei que dizer. Tenho pressentimentos, mas não consigo clarificá-los racionalmente. Estou apático. Só consigo ver a minha sombra, nos dias ensolarados. Que loucura, ter estas sensações que compreendo, mas não consigo expor. Gostava de me ver de fora a partir da minha maneira de ser para saber se sou normal. Irrito-me, por não conseguir sentir que sou compreendido, por esta maneira que se tornou mecânica de me estar sempre a corrigir, a arranjar mentalmente outras maneiras de me exprimir quando acabo por não me exprimir de nenhuma. Que se passa comigo? Sei-o e não o admito a mim mesmo, logo é como se não o soubesse. Meus sentimentos estão imiscuídos uns nos outros. Numa simples frase: ‘não consigo interagir verbalmente, em qualquer temática’. Como que o organismo se tenta defender dos problemas que tem tido bloqueando-se, caracterizando-se mentalmente esse bloqueio pela esquiva das ideias quando surge um momento de as extravasar. Tenho medos. Medos de vir a ficar demente, de ficar só, sei lá que mais- lá está o pensamento a fugir...-.Queria dizer coisas fantásticas, metafísicas, só que nem as mais banais sou capaz de exprimir, como se a palavra fosse sagrada. Ás vezes penso: ‘Era bom que isto que se está a passar comigo fosse um sinal divino, um Dom de Deus que se estivesse a desenvolver em mim apesar de eu não o entender, é que às vezes sinto-me tão parecido aos relatos que fizeram de Jesus Cristo, que por uma espécie de esquizofrenia eu era capaz de dizer que era eu mesmo. Sou tão humilde, como ele, para com os outros... Eu sei que não sou nada disso. Sim eu sei porque sou assim. Eu criei-me de uma maneira estranha, às vezes tenho ‘flashes’ que surgem em determinado momento quando estou a analisar o porquê de ser assim agora, ‘flashes’ esses que me levam para a situação causadora daquilo porque estou a passar nesse determinado momento. Realmente o meu eu está fragilizado, não tenho afirmação.

Alegoria da Gruta

                         Alegoria da Gruta


 


         Que Protectoras que são, num dia chuvoso ou fresco ou escaldante. Que belas aquelas grutas! Que calor emanam nos dias frios de Inverno! Que frescura nos dias quentes de Verão! Muito frequentemente estamos perto de alguma. O desejo de a explorar sobe-nos à cabeça. Mas por haver sempre riscos temos que ponderar... e por vezes ateimamos e perdemo-nos por elas a dentro ou simplesmente agasalhamo-nos do mau tempo ou então desistimos antes de tentar a aventura ou depois de ter ponderado. Em algumas é preciso entrar de rastos, enfim são as mais difíceis a par com outras que são autênticas ratoeiras. Umas encontramo-las em terrenos pouco montanhosos entre densas ou raras florestas. É interessante que, com o avanço dos desertos, já as encontramos em descampados.


            O homem de hoje já não explora qualquer gruta como outrora, que explorava qualquer uma. Não, hoje além do aspecto que ela apresenta há outros factores que contam para a decisão dessa exploração. Há o factor psicológico, isto é, a predisposição do indivíduo face à gruta. Também é verdade que em certos casos em que o tempo anda agreste ou escaldante e quando é necessário agasalhar-se não se olha a nada de factores, acontece como primitivamente. Muito geralmente, hoje, já se vai bem equipado sempre que se pretende explorar uma dita cuja. Muitas vezes acontece, quando há muitas, umas muito perto das outras, a decisão torna-se ainda mais difícil, de tal modo que se gasta mais tempo a apreciá-las do que a explorá-las, se é que se chega à entrada de alguma depois de tanta apreciação. Outras vezes há um deserto de grutas, isto é, não se encontra nenhuma, que é o que se passa com mais frequência.


            E o cúmulo dos cúmulos (!): não é que há muitas em que é preciso pagar para entrar...

TU

                                                               TU




Nem que seja noite, no teu olhar acharei luz.


Nem que seja sonho, na tua mente serei realidade.


Nem que nada faça sentido, em ti ele existirá.


Nem que haja tristeza, por ti haverá alegria


Tu... eu... eu e tu, tu e eu.


Eu... sou eu. E tu?


Existo eu, logo existes tu.


E eu quero encontrar-te. Algures, quando essa névoa


cerrada que te envolve e indefine se dissipar.


Talvez num caloroso pôr do sol à beira mar, sentada,


a olhar, pensando num amor a encontrar.  

sábado, 11 de agosto de 2007

Eu... na solidão, na depressão [2004]

    Mais uma noite vencida. Mais um dia em que acho que compreendi mais umas facetas do mundo ou compreendi melhor algumas que já me parecia ter compreendido. Compreendo, mas que adianta compreender? Milhares de pensamentos me assaltam a mente por dia. Compreendo mas não consigo agir. As pessoas no centro do mundo, as pessoas no centro dos problemas, no centro dos meus problemas. O mundo social, o eterno mundo social. A desvalorização da individualidade das pessoas num mundo onde  se pretende a independência das pessoas mas que em minha opinião é um verdadeiro atentado à privacidade das pessoas, ou seja à sua individualidade, um mundo de imagem, um mundo de sonhos. Eu quero ( e não quero) continuar a sentir a solidão a que já me habituei, quero ser um verdadeiro solitário, a combater o mundo que me é adverso. Que sentimentos são estes que entram em conflito, sinto sentimentos opostos em mim. Porque não podem os simples continuar a ser simples? Que luta é esta que se dá dia após dia, uma luta de nós contra nós mesmos? A minha vida em relances. A visão austera da minha vida. O grito silencioso. A minha compreensão que se dá nas coisas. Eu, quase que dizia, decididamente, que não sou do mundo por onde tenho andado. E peço agora, como peço sempre, que Deus me mostre o caminho, que me integre no meu mundo. Eu não sou nenhum anormal. O que eu sinto é verdade. A loucura não existe na minha mente mas sim na mente dos outros. Ninguém sente como eu sinto. Eu sou único. Nada mais restará de mim depois de morrer. Porque compreendo desta maneira? Ninguém sente como eu sinto. As palavras e mesmo frases repetem-se na minha mente incessávelmente. Eu sou um ser anti – vida. Eu sou, já fui mais, uma bomba relógio sempre prestes a rebentar mas sem nunca rebentar. Será que me distanciei mesmo desta humanidade que me envolve? Como poderei experimentar esta hipótese? Caminhei no sentido oposto ao desenvolvimento da humanidade. Acredito que há muitos e muitos como eu ou do meu tipo mas que não têm expressão. Perguntas e mais perguntas. Será que vou cair na depressão em que já caí? Não, na mesma não cairei, mas posso cair numa outra. Meu Deus! Porque eu penso sobre o que eu penso tão intensamente, porque tenho tanta consciência sobre mim e cada vez mais sobre o mundo que me rodeia?  Eu peço a Deus para que me dê a possibilidade de agir. Eu, meu Deus, Eu, EU, EU, EU!!!!! Não digo o que sinto, não sinto o que digo. Grandes palavras, grandes sentimentos, nunca mais, nunca mais. Vou desaparecer, só, na solidão, na absoluta e completa solidão. Vou atingir o nirvana, de onde vim. Estou apático, não sinto já, quebrei a barreira do meu destino, foi-me dada uma segunda chance de vida e ainda nem sei se vou aproveitá-la. Os Aviões do ar, o bem falar, o mar, o mar. As montanhas, o céu já não é o meu limite. A imensidão, a profusão dos sentimentos, a paixão que é isso? A apatia, que nunca mais me vai deixar. Só compreensão, só compreensão. É o destino. Um abanão é do que este mundo precisa. Acordar para a realidade. Eu não sou deste mundo, definitivamente, eu não sou deste mundo. Que caia o destino sobre mim, que me trespasse, que jorre sobre o outros, que sofram pelos seu pecados, pela sua inconsciência. Eu não sou deste mundo, definitivamente. E o sol já não nasce, a lua já não existe. Eu não falo, eu não digo. Eu sinto, eu sinto, somente. Eu destruio - me  simplesmente. Eu estou abandonado, eles vão-me abandonar, eu vou ficar na mais profunda solidão.

sábado, 4 de agosto de 2007

Poema em linha recta

Poema em Linha Reta


 


 


"Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.


E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.
Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...


Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?


Ó príncipes, meus irmãos,


Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?


Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?


Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que tenho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza."


  


 


                      Álvaro de Campos(heterônimo de Fernando Pessoa)


 

A ordem, onde esta ela? [18-12-03]

                                    

        Ao som da música... let there be love, há sonhos infinitos, gritos sufocados, dias apagados, pensamentos obcecados. Os dias fluem irrompendo na noite. A noite, sim, a noite! Misteriosa, poderosa, calma e renovadora. Ela que trás o brilho fulgurante na cauda. A noite, esse eterno espaço sideral onde tudo tem principio e fim, a infindável compreensão das coisas, o sentido perdido a ser encontrado, o refúgio de uma prisão perene, a transgressão máxima num caminho proibido, o delicioso momento transcendental, a correcção – errada- do que não está certo, a realidade que ninguém conhece, o sono vencedor da batalha invencível. A noite, a loucura de querer pôr ordem onde só o poder o pode fazer... a loucura, a loucura, a ... loucuraaaaaaa! A certeza de querer ser assim, mas não poder, a força que nos invade, o destino que nos persegue. A noite, as realidades separadas, a loucura, um momento que nos invade, a certeza de repetir sem medo de acabar por dizer que nada fez sentido existe a não ser aquele que damos as coisas. Ao som da musica, o refrão que nos faz mover, o móbil da existência, a loucura de ser jovem, na noite, ligação para o dia. Esquizofrenia, paranóia, a nóia, a nóia, a musica, a expressão dos corpos, a expressão da loucura da noite. Não, não estou louco, estou simplesmente loucamente bloqueado, não apaixonado, interpreta como quiseres, repetições, apenas repetições na tua mente, faz, diz, eu estou certo, eu sei eu não sou Deus eu apenas falo, eu apenas queria ser... alguém, aquilo que não sou, ter o mesmo estilo próprio, ser um vencedor quando chegar ao ponto de partida, a meta. Ler as entrelinhas, a fantástica visão das coisas, o maravilhoso pensamento de sentir um mundo além do infinito. Vale! Valeu! Vale sempre, não temos a perder, sempre a ganhar, nem que seja sofrimento nesta vida curta, imperiosa. A noite, uma câmara oculta que nos vigia para o dia, a inteligência rara que nos afugenta. Perder nem sempre, mas ganhar também, pormenores da inspiração de um prisioneiro que é livre em si próprio. O grito que em nós está, gritado por outros que de nós se aproximam, acalma, sai dessa! Isso diz o refrão, canta, sente em ti, voa nessas tuas asas sem medo da queda, vai! Segue através do fogo, brilha no universo, porque para ti o mundo não chega. O silêncio deve ser glorificado, o som tem que ser ecoado, o silêncio...

            Entra na onda, primeiro o refrão, impulsiona-te e força, siga que ninguém te pára. A ordem não tem sentido, apenas o que sentes tem sentido, não o podes encontrar fora mas dentro de ti. Sente não tenhas medo de sentir, não tenhas medo de partilhar, não tenhas medo de ter medo. Sente que sentes, calmamente, body language, agora entendo... agora compreendi, finalmente. 

Fé, faltas e culpas [2004]

          Evocar o passado, prever o futuro. Memória de trabalho. O Passado, o meu, tão longe e tão perto. Flashes de uma vida vivida e augúrio de um futuro, imagens e mais imagens. Sons, cheiros. O fantástico já passou. A especialidade já se foi. Perdoai-me a minha influência, remi as vossas faltas como eu tenho de remir as minhas, as vossas faltas são hoje a causa dos meus problemas. As minhas faltas já as encomendei para alguém. E eu praguejo dentro de mim contra vós, aqueles que ainda não descortinei. Perdoai-me por não saber amar, eu já soube, eu fui o melhor amante, eu gostei de vós. Agora estou numa de vos mandar à merda, a vós que não direi quem sois porque vos desconheço. A vós, que talvez não lereis estas palavras de sinceridade. A culpa não pode cair somente em mim. Terei que andar assim até ao resto dos meus dias? Oxalá se faça justiça. Mas mesmo que se faça, o facto de eu não a ver desacredita-me. Se eu visse quem são os meus inimigos, se eu conseguisse discernir, ó se eu pudesse. Mas o homem é falso. E era a este, o falso que passa por amigo e que na realidade é inimigo que eu queria ver um raio cair-lhe em cima. Oxalá eu viva para os ver cair, para ver cair a minha ira sobre eles. Pisa-o, espera pela justiça, que ela se fará pela calada da noite. Se eu acreditasse... eu seria mágico. Eu já acreditei. Eu na verdade sou um mágico, não o digas a ninguém, podem deitar-me na fogueira do isolamento, da solidão. Se me perguntares quem sou eu to negarei. Querem-me pôr como louco. Se não acreditares que eu te conheço e me perguntares, eu to negarei. A negação está em mim. Ser do contra é pôr-me em pé de guerra contra os meus inimigos, discordar da opinião dos sábios deste mundo, aqueles que têm um grande poder de retórica. Não, não tenho esse poder.


            Acreditei no amor, mas apenas encontrei desamores e dissabores. Acreditei na vida, mas apenas vi a morte. Não sou eu o culpado do rumo que este mundo tomou. Eu apenas quero sobreviver. Ou então sofrer com razão. Se eu tivesse o poder espalharia a ira por este mundo que não me aceita. Esse mundo que não me quer pertencer. Eu já não sou deste mundo. Se eu pudesse separar o trigo do joio, se eu pudesse eu seria.

quinta-feira, 26 de julho de 2007

O poder [2004]

      E o poder é também um conceito em que penso variadas vezes. O poder que não depende de nós mas depende dos meios que se utilizam para ser chamado poder. Um discurso por si só não revela poder, o meio que é utilizado para chegar até ao maior número de pessoas é importante para o transformar em poder, e para ser ‘poder’ esse discurso têm que estar em sintonia os ouvintes com o discursador, os ouvintes têm que saber o que ele está a dizer. No caso do poder televisivo, além do bom discurso que se tem que ter, também tem que se ter uma boa imagem. Ter ‘poder’ significa conseguir influenciar o maior número de pessoas, agradar-lhes e ser capaz de os pôr a fazer qualquer coisa que nós queremos que elas façam e ter o menor número de pessoas com ideias contrárias às nossas e que nos faça oposição. Com ‘poder’ há muita gente, gente esta que muitas das vezes desconhece o seu poder, e pior ainda desconhecem o fruto das suas acções, da sua influência sobre os outros, da sua influência negativa muitas vezes. Muitos agem completamente convencidos de que estão a agir bem e na verdade estão a agir mal. Muitos pensam que aquilo em que eles acreditam é que é verdade como se tudo fosse igual para sempre, de que os seus ideais fossem válidos para todo o sempre. Também é verdade que muitos estão a agir bem sem saber, têm o poder e usam-no bem, mas de qualquer modo é sem saber. Mas acho que o verdadeiro ‘Poder’ não pertence a um simples homem, por mais inteligente e força que ele tenha. O verdadeiro poder é o poder do equilíbrio, o equilíbrio dos sistemas e o equilíbrio das energias. E acho que o que o homem faz muitas das vezes é provocar desequilíbrio. Eu tenho pouco poder. Por vezes também penso que eu estou certo e que a minha certeza é a única válida no mundo. Mas depois penso, talvez não seja, mas, a minha maneira de ver o mundo faz com que para mim, essas certezas, sejam válidas. E não adianta muitas vezes evitar influenciar o mundo, as pessoas, como se lhe fossemos fazer mal. Muitas vezes fazemos mal ao não dar a nossa influência às pessoas porque essa influência que pensamos que irá ser má, afinal seria boa, e foi mal não a ter utilizado. Acho que temos de saber utilizar o poder e a influência na altura certa, coisa que nos é difícil de fazer porque o nosso inconsciente e as causas que nos ultrapassam ainda têm muito peso sobre as nossas acções. Assim, como exemplo, perante a ganância inconsciente da riqueza muitas pessoas são sufocadas na vida, é - lhes roubada a parte da liberdade a que tinham direito por outros, os detentores do poder. Injustiças há - de sempre haver, algo a mais numa parte e a menos em outra, mas acho que isso faz parte do equilíbrio. A liberdade por exemplo, para uns terem mais liberdade há- de haver outros que tem a menos. Seja assim, o espaço ocupado no mundo é por exemplo 100%, se entre duas pessoas uma ocupar 80% então só já restará 20% para o outro, e talvez a matemática seja evidente. E nesta nossa casa que é o mundo cada vez haverá menos espaço para as Liberdades e Poderes cada vez maiores e emergentes das pessoas que nascem. Os velhos têm que ir e dar lugar aos novos e os novos serão cada vez em menor número e mais perfeitos. Se os recursos não se esgotassem, se tudo fosse estável, talvez um dia a sociedade se tornasse perfeita, talvez os homens se tornassem perfeitos. Será que a perfeição está no nirvana? No nada absoluto, no princípio e no fim de tudo? Ou a perfeição está neste mundo de cores e contrastes, apesar de parecer injusto. Talvez a beleza e a perfeição resida na contradição das coisas, e a sombra e a tristeza resida apenas naqueles que se recusam a acreditar no que vêem e sentem e não aceitam tudo isso.

segunda-feira, 23 de julho de 2007

2004- informaçao: tecnologia e internet,

    Há mais meios para processar informação hoje em dia que informação para ser processada, ou melhor, do que informação que realmente mereça ser processada, já que informação existe muita. É fantástico este mundo novo da comunicação, não posso deixar de o dizer. O telefone, o rádio, a televisão, a internet mais recentemente, e talvez o que impulsionou isto tudo, o automóvel, são os principais meios de comunicação que existem. Parece-me que o facto de aparecer um novo meio de comunicação faz surgir mais informação. O jornal já existiria há mais tempo. Rezam os historiadores que o telefone surgiu nos finais do século XIX (19). Uma verdadeira revolução na comunicação. É claro que a sua massificação deu -se progressivamente. Como sempre, uns beneficiam mais instantaneamente dessa invenção do que outros, muitos outros. Tento imaginar as consequências culturais que isso implicaram, as resistências que existiriam perante tal coisa, porque também as deveria haver, a incompreensão de tanta e tanta gente que não conseguia conceber na sua imaginação algo de tão fantástico que é o poder falar através de um fio a grandes distâncias. Sinto, pensando desta maneira, a diferença que existe entre os homens, não só a diferença que existe em termos de riqueza económica, que também é muita, mas a diferença cultural que cada vez é maior, cada vez os sistemas estão mais complexos e afastados uns dos outros, e por sua vez também os humanos. Daí que os homens caminhem para uma individualização, indo daí o tal afastamento. Para muitos o aparecimento do telefone deve ter sido como o aparecimento do jornal para os analfabetos, como poderiam eles compreender tal objecto se ele não fazia parte da sua cultura (não sabiam ler)? Só as gerações que se seguem conseguem realmente utilizar com naturalidade aquilo que surge em determinadas épocas: Eu por exemplo sei utilizar a internet, coisa que os meus pais não conseguem e sei que os que virão depois de mim terão outra capacidade superior e natural para a utilizar, quando nascidas no meio onde existe esse objecto criado. Mas morra quem morrer, os sistemas não páram, o mundo tem que continuar em movimento e a evolução tem que se dar, logo a humanidade tem de seguir em frente. E novas invenções surgiram, a rádio. O mesmo pensamento que apliquei ao telefone também se pode aplicar ao rádio e televisão: houve resistências e aceitação. Uns viam-nos como meios favoráveis do qual poderiam tirar partido, mas com certeza haveria outros cujo aparecimento de tal meio ia contra algo de si, talvez contra a sua cultura que defendiam (inconscientemente que fosse) acerrimamente (digo isto a pensar nos meus pais também que defendem acerrimamente a cultura que lhes foi incutida e em que eles acreditam). E estes são também aqueles que não sabem lidar com tais meios, que lhes causam medo, possivelmente – a mim causam. Os meios de comunicação são um poder enorme. Aquele que os sabe utilizar tanto pode fazer muito bem como fazer muito mal. A influência que têm nas pessoas é enorme. É claro que os analfabetos são hoje em dia, porque ainda os há (ano 2004), como que pessoas de outro mundo, neste incompreensível mundo da informação. E assim, hoje em dia há um vasto leque de opções à escolha de meios de comunicação para as pessoas se expressarem, além de haver muitas formas de se expressarem. E agora surge-me a pergunta: será que ‘meio de comunicação’ e ‘forma de expressão’ serão conceitos idênticos? E o que acho é que estes dois conceitos se interpenetram mas não significam precisamente o mesmo. ‘Forma’ tem a ver com formato, exemplos: forma escrita, que é o que estou a utilizar neste momento; forma de discurso oral; forma musical; forma corporal como é exemplo a patinagem artística. Todos nós temos infinitas formas de nos expressar (inconscientemente que seja) e que o homem tenta desvendar a cada dia que passa, conscientemente O ‘meio’ tem a ver com o objecto ou circunstância que se utiliza para que aquelas formas de expressão cheguem a outro ouvinte ou interlocutor, imediata ou posteriormente. Sem os meios de comunicação que agora temos, antigamente, as notícias corriam de boca em boca, algo que se passava, só se passava em determinada e circunscrita circunstância. Hoje por exemplo com a televisão e rádio, o mais simples dos acontecimentos que se estejam a passar em determinado lugar podem ser visto em directo, quando não em diferido, para muitas partes do mundo, se as câmaras de televisão estiverem lá ou o rádio. Há meios que normalmente são de expressão unilateral, como o rádio e a televisão, a interactividade entre quem vê e quem é visto é mínima, a massa interactiva entre quem participa ao vivo no acontecimento e aqueles que vêem é mínima, dos que vêem apenas alguns participam através do telefone quando lhes é permitido em programas em directo. Assim também para o jornal que é completamente unilateral. O telefone é um meio de comunicação bilateral, a comunicação entre os intervenientes do acontecimento é instantânea e dá-se nos dois sentidos obrigatoriamente. A internet é talvez interactiva, por isso talvez seja bilateral: vemos informação, podemos pôr informação, podemos conversar em tempo real, e é um meio ainda em franca evolução. Mas deixemo-nos de constatações, como se quiséssemos criar padrões de entendimento deste assunto. A verdade é que o facto de se ser um meio de comunicação unilateral pode significar muita diferença para o bilateral e interactivo. Os meios de comunicação unilateral podem-nos deixar como que hipnotizados perante aquilo que vemos sem podermos ter o nosso ponto de vista, quando entregues totalmente a eles. Podem deixar-nos mais ou menos condicionados perante a informação que recebemos como se ela fosse algo de absoluto. E em relação a isso acho que a internet vai ser uma válvula de escape no futuro para tanta e tanta gente que vai poder libertar-se das amarras da televisão principalmente, na medida em que cada pessoa poderá ter voto na matéria que é a vida do mundo, neste mundo de informação, as pessoas vão poder falar outra vez, para o outro, como no inicio com o telefone que aproximava os familiares longínquos, e desta vez poder-se-á falar com qualquer outro que estará do lado de lá do mundo e que tem um fado parecido ao nosso para compartilhar sem que ninguém o entenda. Talvez as pessoas encontrem mais facilmente alguém com quem desabafar outra vez, e talvez se aproximem de novo as pessoas afastadas pelo poder da televisão, o poder que se transformou na falta de diálogo e compreensão.

2004- Momentos, questões, liberdade, poder, sabedoria, inteligência e lucidez

    Mais um dia fantástico. Mais barreiras ultrapassadas. As palavras cada vez são mais escassas para descrever a enorme quantidade sentimentos e emoções que se sentem, enfim, para descrever aquilo que se passa na vida. E as minhas palavras deixam ser formadas só por letras, elas são formadas pela música, pelos sons da natureza que fala por mim, pelo correr das águas mansas ou rápidas, pelos sons das aves do céu. São formadas pela chuva e pelo sol, tudo fala em meu nome, todo Universo diz aquilo que eu não consigo dizer. A sensibilidade vai-se perdendo, vou parando de crescer, diria que estou quase formado, e há - de chegar uma altura em que o crescimento há – de ser mínimo, mas antes há – de haver um momento em que a desfrutação há – de ser máxima. O mundo é para se utilizar, é para usar e deitar fora. E há – de haver um momento em que a dor há – de ser mínima. Tão mínima que a hora há – de chegar. E então tudo se compreenderá.


            Houve uma altura em que eu fazia questões. Há alturas em que eu encontro respostas nessas mesmas perguntas, como se elas respondessem por si, como perguntas de retórica. Houve alturas em que aquilo que eu pensava que estava mal afinal não estava mal, eu é que estava mal, atribuía aos outros as culpas, mas depois resolvi atribuí-las a mim e em lugar de querer mudar o mundo decidi que devia mudar-me a mim, era muito mais fácil, além de que mudando-me a mim eu mudarei o mundo. Eu sou um presumido, não tenho a ideia real daquilo que passo para o mundo, questiono-me constantemente se serei eu realmente normal aos olhos dos outros. Apesar de tudo a dúvida subsiste. Mas, quem não é presumido, todos temos orgulho de nós próprios, todos achamos que somos melhores do que os outros, todos desejamos ser melhor do que os outros. Todos somos livres de ser melhor do que os outros e é com os outros que evoluímos. Quer dizer, somos livres e não somos. Somos livres até ao limite da liberdade dos outros. Somos livres quando os outros ou alguém, não nos limita a nossa liberdade. Cada um por si tem que conquistar a sua liberdade e isso é uma tarefa que cada um deve fazer ao longo da vida. E ainda, pode acontecer que os nossos limites não nos deixem alcançar a liberdade desejada, e então temos tendência para nunca estarmos satisfeitos e vivermos em constante ansiedade, tentando ultrapassar esses limites. Nascemos ilimitados, esta vida é que nos limita.


            O poder. O poder faz mal aos homens. Quem está no poder influêncía. Mas um Homem não pode mudar o mundo. Mas necessita de poder. Poder de sedução, poder de produzir coisas agradáveis aos olhos dos outros. Poder é ser – se capaz de ser –se melhor do que os outros, pelo menos deve ser assim. Poder é saber ouvir, poder é sorrir, poder é saber amar. Poder é ter a sabedoria das coisas sem presunção, ter a abertura de querer saber mais sempre, ter desejo de ultrapassar constantemente os próprios limites. Poder significa também sofrer. Quanto mais alto se sobe melhor se vê, mas tanto se vê o bem como o mal, não se vê só o bem como se poderia pensar. Ter poder é saber seleccionar entre o bem e o mal, entre aquilo que é melhor para nós e para o mundo e o que é pior para esse equilíbrio entre nós e o mundo. Há o poder do olhar, o poder da mente, poder de sedução, poder físico, poder do toque, poder da inteligência que produz a sabedoria. Será que a inteligência produz sabedoria? Definições: Sabedoria - “grande abundância de conhecimentos; ciência; prudência; rectidão; razão.” Inteligência - “Faculdade de pensar conceber e compreender; compreensão; entendimento; intelecto; Pessoas de grandes dotes intelectuais; juízo; raciocínio.” Dadas as definições decerto deduzo que sim, efectivamente a inteligência é o meio de alcançar a sabedoria. Chegamos a uma altura da vida em que a inteligência se interpenetra com a sabedoria. A inteligência tem o maior potencial no princípio da vida diminuindo à medida que o tempo passa. A sabedoria, pelo contrário, vai crescendo ao longo da vida atingindo o seu auge já no final da vida enquanto somos lúcidos.

domingo, 8 de julho de 2007

1-10-04 'Ainda' o Mundo eterno dos 'talvez'

Talvez se seja mais feliz sendo louco. Talvez valha mais a certeza do incerto do que a incerteza do que é certo. As minhas memórias da loucura estão escondidas através do dia a dia. Talvez tenha que mudar de método, talvez tenha que mudar o meu discurso, talvez tenha que mudar o meu pensamento. Talvez eu consiga ser outro sendo quem sou. Tenho que me agradar a mim próprio para andar bem. Talvez eu deva desistir de pensar que tenho de fazer qualquer coisa. Talvez eu tenha que dar o braço a torcer. Talvez este mundo não me pertença. Tenho que sair das sombras, estou farto desta escuridão. Tenho um longo caminho a percorrer até ao sítio onde eu me vou encontrar bem, não posso parar. Eles vão ganhar, vão levar a deles avante. Terei que me vencer a mim próprio. EU SOU NORMAL. Não ando pelas regras dos outros, eu próprio criei as minhas regras. Eu quero ser independente. Eu parei no tempo em muitos aspectos. Eu sou finito. Todo o homem é finito. Eu não poderei mudar o mundo. Mas porque a imagem pode? Porque pode a palavra? Porque o muda o som? Porque o muda a técnica? Porque eu não possuo um desses meios de mudar o mundo? É só sentir, só absorver, é só esconder, como um bicho do mato. Como se o mundo parasse de rodar quando eu desfalecesse, como se eu fosse ponto fulcral, se é que o já não fui. Tudo o que fui a apagar-se, o tempo a passar, e eu perco a partida. Como dar a volta, eis a questão?


            A minha imagem não é a imagem de aparência. Ela é o retrato de quem eu gostava de ser. A minha imagem traduzia-se pela perfeição. Mas como eu posso ser  perfeito se eu sou simplesmente um humano? “Heaven is a place on earth”. Talvez isso seja verdade, talvez o paraíso seja um lugar na terra. Não, não sou feliz, não sou bem humorado, sou sério, a minha imagem não é o ‘faz ver’. Será que o homem só pode estar ao pé do outro estando bem disposto, com uma boa imagem? Porque teima o homem em andar no mundo da ilusão? Já não é o suor que une os homens, mas sim a boa aparência, a falsidade das palavras. E a cada momento que passa ponho  em hipótese se as minhas palavras transmitem algo com sentido. Até parece que o Outono deixou de ser Outono. Até parece que o Inverno se transformou em Verão e vice-versa. Mas isso já não me preocupa. Talvez o que mais me preocupa neste momento seja a minha sobrevivência.


            As flores desabrocham, o sol nasce, a lua aclara a noite. A noite mantinha o ritmo, a noite quebrou o ritmo. O mundo tem perspectivas e perspectivas, as variáveis são imensas, as palavras já serão poucas para descrever tudo. O mundo nunca será mais o mesmo. A vida nunca mais será a mesma. Eu  preciso de sobreviver, mas já não sei como me aproximar dos homens, porque será que assim acontece? O meu mundo desabou e não tem mais sentido como era. Mas novos mundos podem surgir. Talvez eu já tenha perdido tudo o que tinha a perder. Talvez eu tenha que me deixar de loucuras. Talvez eu tenha que pôr todos os medos de lado, entre os quais não ter medo de ser bom, de ser o melhor. Talvez eu esteja errado mesmo. Talvez isto tudo não tenha sentido aparente, mas lá no fundo eu existo eu tenho uma conduta na minha maneira de sentir.


            Mais e mais. Sempre mais e mais, sem nada conseguir parar tudo isto. O movimento, o céu, o sol, a lua, as nuvens, o rio que corre, a neve que cai, o dilúvio, a avalanche, a avalanche. Das emoções, dos risos e dos choros. O dilúvio de culturas. A apatia. O não mais sentir. Sinto que nada sinto. A solidão corrompe. A solidão fortalece, faz calo na alma. Mas de que se fala, tudo a querer falar dos outros, tudo a dizer que os outros estão mal, quando são eles que estão mal. Espera-se por justiça. Espera-se pelo amor. Espera-se que ainda tudo tenha sentido.

sexta-feira, 29 de junho de 2007

Deus e o mundo eterno dos 'talvez'


    Talvez. Este meu eterno mundo dos ‘talvez’... Talvez todos se sintam da mesma maneira a determinadas alturas da vida, talvez toda a gente se sinta especial. Talvez toda a gente tenha que se sentir especial para fazer algo de positivo. Eu já me senti especial, eu acho que já fui especial, eu já acreditei nos meus ideais e achei que estava no caminho certo. Eu já fui o que se pode considerar de normal, mas também já fui excêntrico. Eu já quis ter a razão do meu lado. E se a razão estivesse do meu lado, o prognóstico que faria deste mundo e de tudo o que existe seria de imenso pessimismo, com pouco optimismo, assim sou eu. Já pensei que podia mudar o mundo, acreditei que algum poder, para isso, transcendental, estivesse do meu lado, acreditei em Deus. Ainda acredito, mas não o posso conceber segundo ideias que não são minhas e que pertencem a outros. Julgo neste momento, que cada um o tem que descobrir por si. E agora, acredito que não posso mudar o mundo, sou demasiado pequeno e finito para isso. Deus, os homens, a sabedoria e a inteligência, tudo o que existe e existirá, o Universo dentro e fora de nós, o infinito tão longe e tão perto. Uns descobrem-no voltados para o exterior, outros voltados para o interior, o seu interior. A Loucura, tão longe da ingenuidade, da pouca sabedoria e da pouca inteligência e tão perto do inalcançável. Que seríamos sozinhos? Sem o máximo EU, sem o Deus, sem os outros que não seríamos o que somos. Como conseguem os homens tornar lobos em cordeiros? Como podem os homens odiar? Saberão os homens amar? Não meter o nariz onde não se é chamado é importante, Deus é o construtor deste mundo, quem é chamado a ajudá-lo deve ir, quem não é chamado para a sua obra fica no desemprego. Mas acho que ninguém é esquecido. Quem se revolta, só se revolta contra si mesmo, todo o mal que se tenta infligir aos outros, cai sobre o próprio, quem não quer acreditar no que vê anda por caminhos errantes, sofrendo, indo contra a sua própria conduta. Toda uma linguagem metafórica envolve o mundo, toda a linguagem de Deus é metafórica, só um mínimo de coisas são realidades, as essências são as verdades, e essas talvez não sejam tão palpáveis como uma rocha, o espírito é que lhe indica (à rocha) a realidade e talvez aí (no espírito) residam as verdades, o sentido das coisas. Sem o espírito, a luz, todo o mundo é incolor, sombrio e  sem vida, sem o espírito o corpo seria apenas matéria sem vida como uma rocha. O espírito é vida. Será que então o espírito realmente desaparece? Será que existe realmente a morte? O corpo é pó e o espírito é onda e magnetismo. Talvez as palavras sejam demasiado simples para descrever a complexidade daquilo que é a verdade. Talvez mesmo, o que chamam de  ‘bem’ seja o prazer e o chamado de ‘mal’ seja a dor. Sendo assim aquilo que nos dá prazer é o bem e aquilo que nos faz dor é o mal. E aquilo que é o bem hoje pode não o ser amanhã, assim como para o mal. E há imenso stress quando se tenta travar todo esse movimento, ou seja, quando ficamos apegados a algo que pensamos ser o bem eterno, há uma luta contra a corrente. O mesmo para o mal. Assim também aquele ou aquilo a quem se chamou Deus não deve ser um conceito estático, novos dados vão surgindo acerca de tudo o que nos leva a formular uma ideia mais correcta de Deus. Porque tem que Deus ser feito à imagem de um homem, restringindo-o  a essa imagem. Talvez mesmo ele esteja nessa imagem que somos nós num conceito a que chamamos homem, mas não se restringe a isso. Assim também a vida se chama inferno quando o mal se apodera de nós, ou seja quando a dor toma conta de nós e não nos conseguimos livrar dela, quando por exemplo também tentamos manter ideais que já não se aplicam a nós, ou quando nos impõem certos ideais que não são para nós, não restringindo a dor deste ponto de vista a algo físico. Temos que deixar o corpo adaptar-se às situações, corpo e mente. E muitas das vezes transformamos a dor em prazer. E o mal torna-se bem. Então e que é isso dos pecados? Aquilo que alguém convencionou que não se devia fazer e a que chamou mal. Talvez haja um mal comum tal como existe o senso comum. Será mesmo mal matar alguém? Quem mata age por algum motivo e convencido que está a agir bem, mas está a agir mal segundo certos ideais éticos, de alto nível. Mas então para que há guerras? Então, há dor e há prazer enquanto os ideais estiverem em fricção: há o meu ideal e há o teu ideal, eu sinto-me bem no silêncio e tu sentes-te bem a falar e no barulho logo não podes estar ao pé de mim porque isso é como uma contradição, uma antítese. E se tentar-mos estar um ao pé do outro e defendermos os nossos ideais ou ainda porque não há espaço disponível, então isso poderá provocar uma guerra, pela busca do prazer, do bem de cada um, que por sua vez é o mal do outro. Ou, algum, o mais fraco, não morrendo nessa luta sem armas físicas que é a luta dos ideais, tem que viver na dor, logo no mal, abdicando daquilo que gosta, daquilo em que acredita e que o faz sentir bem. E de quem é o pecado então? É daquele que, não havendo espaço para os dois, só olha ao seu prazer e não dá espaço, não cede, um bocado da sua liberdade para o outro, sendo o mais forte e o vencedor da guerra em que fisicamente não mata o outro. É daquele que fecha os olhos perante o equilíbrio e gera o desequilíbrio, é aquele que fecha os olhos perante Deus. É do forte, daquele que mata, aos poucos, aquele ‘seu irmão’ que dá sentido à vida como Deus a concebe, e que merece viver também, porque quando o sol nasce é para todos. É daquele que mata fisicamente e sem razão só pelo prazer de matar. É daquele que tem prazer de sufocar os homens ‘seus irmãos’ sem necessidade alguma, apenas pelo capricho do poder. Podemos concluir que mal não quer dizer propriamente pecado, mal é a dor, e pecado é provocar o desequilíbrio que Deus quer e usar o poder de sentir o prazer consciente, que Deus deu aos homens por igual, e usá-lo em detrimento do equilíbrio, da destruição de outros. E Deus, anseio infinitamente por isso, fará justiça sempre, e tratará destes que fecham os olhos e só olham ao seu prazer. Podemos agir mal, ir contra o nosso prazer e sentirmos dor, mas estarmos a fazer bem a outro, e isso é a favor do equilíbrio, de Deus. Podemos agir bem, olharmos ao nosso prazer e procurá-lo, e contudo estarmos a agir em pecado, a agir mal segundo os desígnios de Deus e do equilíbrio. Quantos não há hoje em dia que estão a agir segundo o prazer, só olhando para o prazer, não olhando a meios para o obter, que um dia serão chamados a contas e verão o tamanho mal que fizeram a outros. Talvez tudo isto que eu digo esteja realmente a decorrer. Mas não me compete a mim ainda saber, se é que algum dia me competirá.


segunda-feira, 18 de junho de 2007

Sentir, ver, ser, escrever [4-05-04]

        Eu  vejo. Eu sinto. Eu não digo. Estarão os outros (vós) errados ou estarei eu? Não, não  sei, mas porque acredito eu que o que sinto é verdade? As pessoas não estão formadas para tomarem conta do seu ser. Eu estou errado. Sinto mal.(?) Eu sou um  louco simplesmente que as pessoas não tendem a ignorar porque algo lhes toco no interior delas. Eu ainda vivo! Eu tenho que morrer! Eu não sei que dizer...Tudo o que sabia vou dar como esquecido mais cedo ou mais tarde. Tudo em que acreditei vai acabar por desabar completamente. Nada restará mais do que eu, por algum tempo mais. O peso que recai sobre mim é grande. O peso da vida é grande. O fardo da compreensão é enorme. A luta é enorme, o equilíbrio é subtil. Não digo o que quero, não quero dizer o que digo. A minha vida é uma contrariedade substancial e absoluta.


            Eu vejo através dos tempos, eu sinto através dos séculos, eu não me sinto humano. Quando ultrapassarei essa barreira? Será que a ultrapasso? Será que reconquistarei a dignidade que tive provavelmente? Lê - de. Lê - de palavras de mais um que quis ser simplesmente humano e não se soube reduzir à sua insignificância. Haverá algum sitio onde as minhas palavras desordenadas, desconexas e sem sentido caibam? Haverá alguém que as consiga ordenar e formar as ideias mais fantásticas que se podem descobrir? Será que algum dia eu conseguirei desbloquear-me e transmitir tudo o que me vai na alma? Haverá alguém que consiga ter a paciência, como eu tive e tenho para com os outros, de ouvir o que eu digo. Se eu ao menos pudesse sair desta concentração que me tem preso...


            Mas eu... sou um entre tantos outros, tantos parecidos e diferentes. Eu sou como alguém que berra num concerto com som no máximo. Nada mais se ouve a não ser a voz de quem não diz nada mais que frases repetidas, sons que tentam inebriar a mais incauta das pessoas.  Porque tenho eu de ter o discernimento de entender as coisas de outra maneira e não me sentir bem com o que sinto, com o que entendo, porque tenho de sofrer com isso, porque é isso uma desvantagem em lugar de ser uma  vantagem? Eu pensava que era único, pensava e penso. Mas pensava que tudo isso só fazia sentido quando o demonstra-se aos outros, quando fosse reconhecido. Mas, sinceramente, só eu me reconheci a mim próprio. Porque acho eu que sou anti–social? Porque terei eu que me inserir no grupo cujo conceito é definido de ‘anti – sociais’? Estou triste, estou zangado, estou danado, estou frustrado, mas nada que provavelmente vá fazer sentir-se alguém culpado, nem quero que alguém se sinta culpado por tal, muito menos quem sei que não tem culpa como eu que reconheci culpas que nunca tive, como se eu tivesse culpa. Não, não me reconheço com tudo o que existe neste mundo, com os ideais mais que estereotipados de homens que nascem e apenas seguem segundo os ideais que lhe foram dados, seguem sem pensar. Eu nasci para pensar, eu nasci para romper com os ideais, eu nasci provavelmente, como tantos outros, para as dificuldades reais da vida. Eu sonhei em ser grande, em tanger o infinito. Mas tudo tem um senão que a gente não vê naquilo que ambiciona. E a parte negativa dos sonhos mostra-se quando o sonho foi alcançado. Quanto mais prazer, quanto mais se sobe alto, maior é o sofrimento, maior é a queda que se sucede. Aquilo que me move não é a riqueza do mundo, aquilo que me move é a busca da riqueza interior, a busca de um entendimento que me apazigúe esta dor interior, que me faça sentir bem.


            E o que me faz estar aqui e agora a escrever? Simplesmente porque não falei enquanto estava com as pessoas, tão somente por isso. Sou um entre tantos e tantos outros. Ponto final, parágrafo.


            Estou a anos luz do que já fui. Nunca mais serei o mesmo. Resta saber se poderei ser melhor.

sábado, 16 de junho de 2007

Longa tarde, caminhando

         Nesta longa e longínqua tarde em que me tento vencer -  vencer a minha monotonia, a minha forma disfuncional de existir, os meus medos, vencer os segundos que passam, vencer os minutos e de seguida as horas, já para não falar nos dias, semanas, meses, anos, decadas que já passei e nos séculos  que já não passarei fisicamente , mas que tanto já imaginei, tangendo o infinito - eu viverei muito mais, nem que seja só na imaginação. Há um tempo para todos e para tudo fazer, há um tempo a aproveitar, mas quanto não temos que perder, quanto não temos que deixar para trás, quantas opções conscientes ou inconscientes não temos que fazer. Optamos segundo aquilo que somos e que nos vamos tornando, atraindo umas coisas (acontecimentos, pessoas) e repelindo outras. Quantas sao as variáveis que nos envolvem, incomensuráveis. Tanta coisa boa temos que deixar de fazer devido às nossas limitações e havendo tanta coisa boa por onde optar e acabamos por optar pelo pior muitas vezes.


   Mas deixemo- nos de lamechices, façamos vibrar as coisas boas, boas vibrações com boas vibrações dão algo de construtivo, más vibrações com más vibrações só nos levam mais abaixo. Mas muitas vezes as má vibrações estão de tal maneira intrincada em nós que é dificil sair delas, como um efeito em espiral em que más vibrações atraem más vibrações num efeito bola de neve. É preciso uma mão que ajude muitas vezes. Estou, longe de casa, numa selva em que sou apenas mais um numero apenas nesta mundo de numeros globalizado, numa cidade onde nao é o meu lugar, onde a economia rege as pessoas, um mundo onde podemos subir alto e descer bem fundo, onde podemos ser tudo e nao ser ninguém.

   Enfim, estes são os meus caminhos que estou percorrendo, estes são os meus caminhos, bons ou maus, desconhecidos, por onde terei que trilhar, muitos esquecidos por onde ja passei.

   Agora vou caminhar.

terça-feira, 5 de junho de 2007

Dignidade [5/03/-04]

 


            Eu sou digno. A dignidade, o que é isso? A definição do dicionário não é tão curta como isso. «Qualidade moral que infunde respeito». A minha qualidade moral não está propriamente boa neste momento, mas se a comparar com aquela que tinha há cerca de três anos, está muito melhor. A minha dignidade, a luta por ela, a minha vida por um fio, a loucura a entrar pela minha porta a dentro mascarada de inteligência, sensibilidade, bom aspecto. «Consciência do próprio valor». Se a definição fosse esta decerto teria muita dignidade, sempre achei que tinha muito valor assim como continuo a achar, só que antes pensava que eram os outros que me tinham que a reconhecer, agora sei que para quem a interessa reconhecer é para mim próprio. «Gravidade». È certo que existe gravidade em mim assim como existe em qualquer pessoa que tem orgulho em si próprio, não ter a mínima gravidade é como que atentar contra a própria existência, é não existir auto – estima, é achar-se indigno, o que não se pode negar a nenhum ser humano que tem direito de existir, seja ele qual  for, e tem direito de viver. Ao contrário do que se possa dizer por alguém, a auto estima é algo que reside em nós até à hora de morrer, mesmo que a nossa personalidade não esteja formada, mesmo que não   gostemos de nós próprios, normalmente da nossa imagem exterior, a imagem interior é a própria auto estima, o sentimento de si. «Grandeza». Não. Não sou grande exteriormente, não tenho a mania das grandezas, pelo menos das exteriores, se bem que por dentro me sinto infinitamente grande, há um Universo dentro de mim, assim como o deve haver dentro de qualquer pessoa, uma grandeza que sinto tanger  Deus, e ai sim, sinto-me grande, diria mesmo que me sinto o mais alto dos homens, o maior deles. É claro que sei que isto é apenas uma presunção. Não passo de um simples ser humano ainda finito. E tenho medo de ser quem sou ao mesmo tempo, tenho medo de ser grande. Bem quero perder esse medo mas... não sei se um dia o perderei. Talvez eu não queira ser grande, talvez eu seja realmente grande de mais para estes homens deste mundo, talvez eu seja apenas um entre tantos dos que, diria enviados por um Deus, o meu Deus e o Deus de todos os homens, mas tudo isto são suposições. Talvez eu na verdade não seja ninguém mais que um simples homem ou ainda um homem que simplesmente compreende o mundo e anseia compreender mais e mais, sem poder parar, como se existisse uma força que vem de dentro para tal, superior e transcendente a mim. Será que compreendo o mundo à minha maneira? Como alguém poderia dizer. Não sei se estou certo ou estou errado, e mesmo que estivesse certo que poderia eu fazer? Mais uma vez : sou um ser finito, pelo menos exteriormente já que interiormente me sinto infinito. Como poderia eu chegar às pessoas sendo eu tão limitado? Mesmo que me tornasse no melhor orador que alguma vez existiu, como poderia? Teria que viver muitos anos, e ai sou  finito, um simples ser do mundo. Pois, grandezas, para nós apenas, para o nosso interior. A matéria é finita. E quanta consciência infinita eu tenho disso. «Modo digno de proceder». Sempre pensei em proceder do modo mais digno em todos os actos da minha vida, o que é sempre difícil, guiado pela busca da perfeição, até há uns tempos atrás. Mas, qual será o modo mais digno de proceder? Talvez o proceder segundo aquilo que nos parece mais certo nos momentos em que temos de proceder. Se agirmos como tal estamos a proceder bem mesmo que isso produza efeitos maus. É claro que se achamos que estamos a proceder bem para nós outros não o verão da mesma maneira. O nosso procedimento é o nosso comportamento. Se agimos, agimos movidos por um motivo, comportamo-nos segundo algo em que acreditamos e segundo causas que nos fazem mover. Mas o nosso comportamento quando interfere no comportamento do outro, privando-o da sua liberdade condicionando-o ou querendo-o condicionar e mais ainda quando se tem consciência disso, deixa de ser um modo digno de proceder. Estamos a impor-lhe algo que tem consequências, é  incerto de ser bom ou mau este nosso comportamento. O homem deve ser livre de escolher os seus modos de proceder, os seus comportamentos, isso é dignidade, quando o homem tenta impor as suas ideias que se demonstram em comportamentos e isso interfere no comportamento do outro forçosamente, isso é um modo indigno de proceder. Ainda diria mais, o homem nasce por natureza digno, assim são as crianças, mas que com o crescimento vão aprendendo a ter atitudes indignas que a consciência cria como seja rabujar sem razão só  para ter a atenção de um adulto. Atitudes como estas irão criar no adulto estados conscientes de indignidade de procedimentos. E hoje, existe na sociedade dita civilizada um senso comum  indigno, quando tenta conscientemente entrar na esfera privada da liberdade de cada um. Assim é o atentado que se está a dar em relação à destruição da família, assim é por exemplo o efeito que as novelas podem criar nas pessoas, na criação de comportamentos que não se ajustam com a realidade, a atitude consciente, logo indigna, de fazer sonhar as pessoas de influenciar massas a ter comportamentos que não se ajustam com a sua realidade, a fazer viver a vida em vão com valores que se tivessem que escolher livremente não escolheriam. Assim é a ideia que alguns tentam impingir e que está a alastrar-se a toda a sociedade de que o homem vive para o sexo, tornando o homem um animal consciente que está a criar uma sociedade que pensa que para proceder bem tem que fazer sexo, não dando lugar ao amor e à capacidade de amar, isto directamente relacionado com a destruição da família. «Respeitabilidade». Sem dúvida que sou uma pessoa respeitada de frente a frente com as pessoas. Por trás não sei se é assim, mas acredito que sim. Sou uma pessoas no mínimo normal e como tal as pessoas respeitam-me quando eu me respeito a mim próprio. Quando temos o ego em baixo a moral está em baixo é quando certas pessoas se intrometem, fazendo – nos sentir mais mal ainda, aquelas pessoas que conscientemente se tornam indignas ao não respeitarem a nossa liberdade e nos querem fazer ver a delas. 

quarta-feira, 30 de maio de 2007

Silêncio das noites

Silêncio das noites


 


No silêncio das noites me reencontro


O ser ignorado dos dias que passam.


Descubro causas, e me ensombro


Nos sonhos que me ultrapassam


 


Reencontro palavras e sentimentos,


Expressões e emoções, não manifestadas.


Consigo sentir incomensuráveis encantos,


E um conjunto de realidades esquecidas.


 


Sentimentos até então incompreendidos,


Como se em mim andassem perdidos.


Confluem todos num só sentido,


Prazer único e indescritível, o de ter vivido!




                                                   Johnybigodes

O tempo, a idade, a luta pela sobrevivência [2005]

    







 

            O tempo, a idade. Cada vez há mais coisas que poderíamos contar. Mas cada vez podemos falar menos. A perseguição é constante. Há pessoas que nos querem passar por cima, que nos querem enclausurar, alienar, dizem elas que estão bem e que nós é que estamos mal. A luta da sobrevivência dá-se entre pais e filhos, é triste mas é verdade. Estou a ver pessoas a comentar o que digo, a julgar-me, mal. A incompreensão do homem é grande, ele destrói com a sua incompreensão. Não sou aliado de ninguém. Estou só e à margem das energias que regem muitas pessoas. Eu vejo as energias a contornar-me mas eu não as sinto. Há que comer e calar. A luta das inteligências é grande. Na verdade procuro uma conduta da maneira como as pessoas me vêem, e não sei se haverá, talvez haja muitos pontos de vista. Uns vêem-me de uma maneira e outros vêem-me de outra. Mas só eu sei o que eu sinto, como eu me vejo. Como eu me compreendo, cada vez mais. Gostava que o que eu compreendo fosse o real em certas coisas, mas para outras não. E se o que eu compreendo fosse o real havia muita coisa mal neste mundo de ilusão e sonho, neste mundo humano. Mas não, tenho que dizer e admitir perante os senhores que percebem deste mundo que o que eu sinto não é verdade, ou seja, não são eles que estão a sonhar, eu é que estou a sonhar, ou seja estou a ter um pesadelo. Vá lá, tirem-me deste filme! Toda esta minha falta de expressividade, toda esta desconexão expressiva provoca em mim o que eles pensam e definem ser 'uma doença'. Ou será que eu estou a dramatizar e isto tudo é exagerado para iludir os outros, aqueles que me querem fazer de doente? Será uma estratégia inconsciente? Mas o que eu sinto é real. Tudo isto joga com energias, na minha presença tudo se altera. Será da minha figura perante as situações, eu sinto essas alterações e não consigo lidar com elas. Serei eu uma vítima do destino? Um bode – expiatório de uma sociedade que me envolve como tantos outros? A culpa é sempre dos outros. Tem que haver uma explicação para tudo, esta mania que os homens têm de querer uma explicação para tudo. Porque está a minha mente dividida em duas?  Perguntas sem respostas, por enquanto…


   Vivemos em tempos misteriosos. Mas o mistério só está para aqueles que permanecem ingénuos, fechados sobre si próprios. Para mim já não existe mistério como se tivesse descoberto uma fórmula que me permite desvendar os mistérios facilmente, como se fosse um ser superior (lá estão as más línguas a dizer que isto é sintoma de 'doença' - nem vou dizer qual). Mal de um doente quando não se puder tratar, mal daqueles que têm de ser esventrados por uns pseudo – sábios que dominam a medicina. Mal de mim, doente que sou, por não me conseguir tratar. Como envolvem os lobos o borrego manso, como o querem comer vivo.


Como eu adoro música. Como eu adoro vozes femininas e sensuais. Como nasci eu apaixonado por este mundo como pretexto para dizer que nasci à procura de um amor que desespero por encontrar. Um amor cada vez mais distante, atrofiado logo à partida. Como eu me embebi neste sonho cada vez mais transformado em pesadelo para galhofa interior de um bando de gente reles que não compreende. Eu sinto antes de sentirem, eu pressinto isso, e o meu amor transforma-se em ódio e vingança, por me terem negado algo mais importante do que a vida, o direito de amar e ser amado, o direito de sangrar até morrer mas pleno de amor, morreria em paz. Como podem aqueles que são amados tornarem-se em desamor, incompreensão, incúria e egoísmo do destino, aqueles em quem acreditámos.


Tantos anos a cultivar esta inteligência, a isolar-me. Mas isso já não interessa, já nada interessa, o que sou eu entre tantos homens? Que culpa eu tenho do que se passa com os outros, o mundo? Já não sou bonito, já não sou superior, já perdi o orgulho que tinha por acreditar naquilo em que acreditei. Deve ser assim com todos, as forças esvanecem-se, acabam por se esvanecer. Mas, talvez, elas ressurjam até  não mais poder. Até não mais poder...neste longo caminho até casa. Onde será a minha casa?