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quinta-feira, 28 de dezembro de 2006

A perfeição é finita

Já um dia quis ser o mais perfeito possível. Mas descobri que a finitude do nosso ser não nos permite isso. Apesar do homem ter construído um mundo fantasticamente humanizado, nunca o mundo foi tão imperfeito, funcional mas não perfeito. Talvez tudo o que existe já tenha sido perfeito, e perfeito foi estar em equilíbrio. Talvez durante algum período no tempo, mais ou menos curto. Talvez também assim na minha vida já tenha tido um período ou um momento em que a minha vida tenha sido perfeita. Mas esse êxtase passou, o organismo não suporta êxtases sucessivos e a capacidade de recuperar torna-se cada vez menor. Os pontos máximos dos organismos talvez não se dão ao mesmo tempo. As minhas potencialidades máximas talvez já tenham sido atingidas. Pouco mais conseguirei ultrapassar daqui, como alguém que atingiu uma certa altura na escalada à montanha e esteja esgotado. Talvez mesmo o máximo do homem e do mundo que ele criou tenha já atingido o máximo, o êxtase. E todo este mundo humano só faz sentido enquanto as interacções do homem se forem dando, enquanto não forem quebradas as correntes que foram criadas. Tal como no amor, só enquanto a chama se mantiver acesa é que o há. Mas quem sou eu para falar de amor, de correntes e elos de ligação se eu estou imensamente desligado do mundo, tal como um moribundo que está mais para o lado de lá do que para o lado de cá. Agarro-me no entanto à vida com todas as forças que tenho, e tento compreender tudo o que se passa comigo e com o que me envolve. E tenho a certeza de que nada voltará a ser o que foi, por muito que desejemos. Tudo o que foi modificado tomou novas formas que não voltam a ser as que já foram. E tudo muda até ao fim. Tudo tem um fim. As nossas vidas têm um fim. Uns perecem com o sentimento de missão cumprida outros de que não preencheram as suas vidas. Uns morrem horrorosamente, outros têm uma morte mais calma. Mas quem tem a visão mais acertada do que é o mundo? Quem tem a noção mais certa? Se fosse eu, essa noção não seria muito positiva, pouco optimista. O homem vive no sonho, até que um dia se não caiu, ele cairá na dura realidade. Mas agora resta a minha vida que tenho que a viver da melhor maneira, tenho que fazer por ela, as causas e os efeitos, a compreensão do caminho do homem, cada vez me dizem menos respeito. Nada posso fazer para evitar o que quer que seja. Sou um animal, um ser que vive entre imensos seres, perene nesta vida confusa e fugaz. Um ser que a cada dia que passa se encontra mais consigo mesmo – eu. E tenho medo de mim próprio. Não poderei mudar muito, mas espero ir mudando. Tenho medo de ficar sozinho. A minha capacidade de ir ao encontro de alguém é diminuta. O retrocesso da minha vida começou, as minhas capacidades cada vez são mais diminutas. Não sei se o que sinto é doença, se é normal, só o tempo o dirá. Mas compreendo cada vez mais o meu passado, as causas de muitas coisas que se passaram, o porquê delas terem acontecido. Mas o que passou não posso mudar. Mas talvez eu possa mudar o rumo mau que a minha vida possa tomar, compreendendo o meu passado. Mas parece-me que o conhecimento das coisas me torna vulnerável. À medida que vou sabendo mais sobre o mundo sei mais sobre mim, e vejo que não tenho capacidade de acomodação do que sei.


A exploração do mundo, se assim continuar, vai acelerar o fim. A solução pode existir ou não. Se os homens se unissem para preservar a natureza, mas nada acontece porque um homem quer, as variáveis são muitas.

sábado, 2 de dezembro de 2006

Questões

Personificação do medo, bode expiatório da vida de outros, é o que se é. Sugados até ao tutano, retiram-lhes todas as energias que possuem. Vampiros. Não conseguindo distinguir o bom do mau, o certo do errado, como se pode viver assim? Terá o homem culpa do que se é? Como se pode viver sem falar? Como se pode dialogar se na hora de falar não se fala, não se pensa, nada? Fujam das dificuldades, façam ver que tudo está bem enquanto puderem. O caminho é irreversível. É único. É difícil de compreender. Porque não choras, pequeno ser? Quem te proibiu de chorar? Porque querem os homens fazer de ti um louco? Porque és a personificação da loucura? Quem te roubou a paz? Porque parece que nada passa. Ainda bem que nada é eterno, o eterno desvirtualiza. Porque têm pena de ti? Será que têm pena de ti? Ou será que te odeiam? Ou será desprezo? Ou será tudo pelo contrário do que foi dito? Fantástico mundo de interligações, até onde se poderá ir? Estará a destruição iminente? Estará ela mesmo já a vislumbrar-se? Que mais há para se ver?



Quem ler o parágrafo anterior poderá ver uma escrita de loucura, um completo alheamento do mundo que nos rodeia, da realidade envolvente, uma completa marginalização e um certa aversão pelos homens. Quem ler o parágrafo anterior poderá ficar com uma ideia errada de quem o escreveu. Ele dá lugar ao pessimismo, à tristeza, ao ódio pelo ser humano. Quem poderá imaginar que já um dia se amou a humanidade, se teve um incomensurável optimismo? Quem não poderá magoar este ser sensível? Como é possível ser-se sensível?


quinta-feira, 16 de novembro de 2006

Estado de espirito

Estamos em 2006. Se fosse há uns anos atrás diria que era um ano de esperança. Neste momento não posso dizer isso. A vida mudou, eu mudei, eu sei mais do que o que sabia, e já passei a barreira dos 20, o limite possível daquele período de crescimento, de esperança e fascínio pelo mundo e pelo Universo físico e social. Na verdade ainda tenho fascínio, mas por outras coisas, talvez possa dizer, mais sublimes. O Universo físico e social foi uma decepção para mim, vi que o mundo não era tão bonito como o querem pintar e socialmente falhei também. Tive que mudar a minha interpretação do mundo e os meus esquemas mentais, os alicerces segundo o qual foi feito o primeiro edifício foram deficientemente construídos. Estou construindo um segundo edifício neste momento. É claro que não pode ser de raiz, tenho que utilizar os alicerces físicos de origem, dar-lhe um pouco mais de resistência e continuar esta construção imparável. Quanto aos alicerces psicológicos, também tenho que utilizar muito do que foi construído, não posso negar o meu passado nem esquecê-lo simplesmente, tenho que deitar abaixo certas estruturas não vitais e seguir a construção. Tenho consciência de que este edifício já não vai ficar dos mais belos mas espero que fique pelo menos resistente para que não desmorone como o anterior. Ao fim e ao cabo o edifico é o mesmo mas com partes reconstruídas.


O movimento é constante, quer a nível da matéria e organismo, quer a nível das ondas e do pensamento. Não há nada parado no sentido literal do termo. Os científicos descobriram que o protão, o factor contrário ao electrão num átomo, é dividido ainda mais por dois outros factores, julgo que lhe chamaram ‘quarks’, quando se chegou a pensar que o protão seria indivisível. Isto para dizer que o pensamento e o organismo humano não param, são dinamicamente estáveis, estão em equilíbrio mas não parados. E com isto dizer também que é a resistência ou o reaccionar (responder) mal a determinado sistema que nos quer fazer ‘mover’, quer a nível do pensamento ou quer a nível do organismo ou de ambos, num determinado objectivo (modo) que nos provoca mal-estar. Assim, podemos pensar em exemplos, que podem ser explicados pelo que foi dito: o caso da ansiedade, porque ficamos ansiosos? Porque há um bloqueio de qualquer coisa, quer física (referente ao organismo) quer psicológica (a nível do pensamento ou da mente), ou seja, porque não há resposta, ou ainda porque há uma resposta inconsequente, não ‘desejada’ pelo sistema. Sejamos mais concretos com o que se passa com a ansiedade: segundo o que eu já senti, descobri conscientemente (o que pode não ser novidade para outros) que fisicamente o que se passa comigo quando fico ansioso é que há um suspender da respiração, além de conseguir antever outras modificações orgânicas que não consigo explicar inteiramente. E mesmo que eu dê conta que suspendi a respiração e a queira retomar conscientemente há algo que não se controla, uma ordem ‘superior’, vinda da mente, que faz com que a circulação do sangue diminua e mesmo forçando a respiração, essa ordem, talvez imposta na mente forçadamente ao longo do meu crescimento, é mais forte e não pode ser contrariada de um momento para o outro, ou seja, da mesma maneira que foi introduzida na mente (ao longo de bastante tempo) assim terá que se fazer para reverter o processo (com tempo e persistência, acredito), forçar a respiração e ‘reprogramar’ a mente para que deixe responder o organismo adequadamente. Por outras palavras, o sistema (organismo humano) necessita de oxigénio para as suas células sobreviverem, logo precisamos de respirar, e quando nós suspendemos essa resposta esperada pelo sistema estamos a criar a ansiedade. Mentalmente, o que se passa com o pensamento é que o pensamento consciente pára e dá lugar ao aumento de pensamentos inconscientes, eu perco mesmo o fio à meada da conversa que o outro está a dizer e perco partes dessa conversa a tentar controlar essa ansiedade. Assim passa comigo e acredito que assim se passa com muitas das pessoas que são fechadas e que não deixam fluir os seus sentimentos no momento (sistema) em que estão inseridas. Os bloqueios são do pior que pode haver, tentar travar um sistema pode ser muito perigoso, quando esse sistema é mais forte que o bloqueio, em lugar de se aniquilar e se destruir para dentro sem consequências exteriores ou com consequências exteriores mínimas, ele irá rebentar e irá provocar um conjunto de reacções em cadeia que irão alterar muito mais outros sistemas em volta. Os bloqueios continuados do que é inicialmente uma ansiedade normal têm consequências desastrosas para o organismo (depressão), num prazo que para uns pode ser maior e para outros, menor. Assim, deve-se tentar atenuar o mais possível, senão eliminar o mais cedo possível, as causas da ansiedade, e isso passa por desbloquear o nosso sistema (organismo) e deixá-lo responder em concordância com os sistemas que nos envolvem, pelo menos responder, mesmo que não seja em concordância, e deixar ou fazer com que ele se adapte ao sistema maior que o envolve (a sociedade, constituída por outros organismos). Resumindo, é a resistência que nos causa dor. A resistência é necessária, mas não em excesso. O movimento tem que se dar, nada está parado, e então ainda mais nos dias que correm. Se estamos mal, e o ambiente à nossa volta não muda a nosso favor, temos que nos mudar nós para outro ambiente que nos seja favorável.

quarta-feira, 8 de novembro de 2006

redenção

Diz-se qualquer coisa. ‘Eles falam, falam mas não os vejo fazer nada… concerteza que fico chateado’. Diz-se muita coisa, demasiadas coisas. Uns querem mandar. Outros acham que são os outros que têm a culpa do que lhes sucede, os outros que mandam. Será possível ver as coisas pela perspectiva mais correcta? Poderá alguém ser responsabilizado somente por algo do que sucede a outros? Haverá um homem superior capaz de reger os destinos humanos e até do mundo? Haverá a perfeição? Porque querem os homens poder? De que serve estar alto no mundo para depois cair? De que serve o auge para depois ir para o abismo? De que serve o poder se depois a responsabilidade dos actos de quem os praticou é posta às suas costas? Será que se é capaz de se aguentar o peso dos destinos do mundo? Será que um homem pode com tal? Eu não quereria tal responsabilidade. Há homens, muitos homens, que agem convencidos de que estão a agir bem, há homens que fazem um mal tremendo pensando que estão a fazer bem. Se a esses homens um dia lhes for mostrada a verdade dos seus actos, esses homens irão arrepender-se até ao fim das suas vidas, e se eles ainda insistirem naquilo que vêem ser incorrecto, alguém (pessoa ou pessoas) de quem eles gostarem muito irá sofrer as consequências dos seus actos teimosos, e eles hão-de arder nos infernos. A semente que se deita à terra dará frutos mais cedo ou mais tarde. As energias que impulsionamos contra os outros são aquelas que virão até nós manifestadas de uma maneira ou de outra, assim: a) quem semeia ventos colhe tempestades; b) Quem cultiva as boas energias boas energias encontra.



Eu desisti de fazer algo, sinto-me impotente para tal. Eu lavei as minhas mãos perante a responsabilidade do poder. Eu apenas quero falar. Já tive tanta raiva contida, tanta contenção que me levou a desesperar. Tanta energia absorvida, tanta energia tão mal canalizada. Eu quero mudar. Eu quero achar os responsáveis por o que me aconteceu, eu quero redimir as minhas culpas, eu quero ser responsabilizado pelos actos que pensava serem os correctos e que afinal eram maus, quero encontrar os responsáveis pelo que me levou a fazer tais actos, o mundo tem que se redimir. Todos influenciamos e somos influenciados, todos somos os responsáveis pelas influências que temos nos outros, as influências negativas transformam-se em culpas, as positivas em poder, poder de impulsionar esses influenciados.


Problemas(de expressão)


  Acho que me sei de cor, conheço-me de mais, mais do que havia de conhecer. E vejo a normalidade humana, e analizo-a segundo um prisma que é dificil de dizer.


domingo, 5 de novembro de 2006

silêncio da tarde

      







Estou no silêncio da tarde. Em silêncio parece ser onde eu me sinto bem, onde o meu feitio de solitário tem vazão, onde eu me consumo prazenteiramente como um masoquista, que só a sofrer se sente bem. Eu bem luto contra isto, mas parece-me que as forças antagónicas são mais potentes. Como alterar uma edificação que já está construída? Só destruindo e começar de raiz. Quanto a modificações que se lhe podem fazer, serão só remendos. Cheio de remendos – e cada vez mais – estou eu. Remenda num lado, rebenta no outro. Os remédios talvez me estejam a fazer mal com os efeitos secundários e chegarei a um ponto que serão por demais evidentes e destruidores. O ‘Z******’ é potente. Ele faz-me por um lado reprimir os efeitos positivos que sentiria, psicologicamente, no meu cérebro. Mas nem por o tomar há já mais de quatro anos eu sinto que vou ficar bom, apenas me sinto mais lúcido em relação há doença que me consome. E os efeitos positivos seriam os de andar num descontrolo mental enorme, mas nem por os tomar eu algum dia serei novamente uma pessoa normal, eu prevejo isso e não quero andar na ilusão, se bem que isso me entristece imenso. O ‘z******’ actua quimicamente no meu cérebro, e decerto já provocou grandes afectações nele. Se por um lado me faz algo de positivo, também me faz muito de negativo. E faz de positivo quando me acalma e me faz aguentar certos momentos mais difíceis que sei que se não o tomasse, me iria abaixo mais depressa, porque eu tenho um feitio depressivo. E ele faz-me dormir, é bom, mas durmo demais. Durmo de mais porque a maioria das vezes não sinto motivação para o que quer que seja, a apatia é enorme, além da falta de energia que perdi, como que se tivesse evaporado, a partir daquela tarde de Novembro de 2000 – se não me engano no ano, em que subitamente desisti de tudo, e entrei em paranóia. Esses dias foram difíceis: Não tinha consciência do que se estava a passar comigo, deixei o emprego, como se quisesse fugir do mundo e de todos os meus medos, e a verdade é que nos meses que se seguiram, tudo se tornou mais difícil ainda, em casa: o descontrolo químico do meu corpo atingiu o auge, e o mais de ano e meio que se seguiu foi de queda até ao abismo, a solidão extrema, a confusão sem fim, a incompreensão do que se estava a passar comigo e com o que me envolvia e do que directamente ou indirectamente me afectava – Quase quatro anos passados desde que eu comecei a trabalhar na noite, num trabalho que eu penso ter sido arranjado por intermédio de Deus (em quem eu desacredito cada vez mais na maneira em como a religião o vê, e acredito na minha maneira de o ver como a mais certa) eu melhorei em muitos aspectos. E ai o z****** ajudou-me a aguentar um bocado todo este trajecto, não só ele mas também. Passados quatro anos vejo que perdi muita coisa, coisas que não devia ter perdido para ser uma pessoa normal, e vejo que pouco ganhei, o meu equilíbrio é muito sensível ainda. E o z****** ajudou-me nesse aspecto de abrir os olhos. Mas o trabalho também. E a noite também (dizem que a noite sempre foi boa conselheira e eu afirmo veemente isso). Aquele silêncio e mais calma que são inerentes a ela deram-me um bocado de fôlego para que pudesse vislumbrar aquilo que me prende e não me deixa evoluir. Mas os efeitos negativos do z****** não se deixam de sentir, e sei que por vezes se misturam com os efeitos negativos do próprio problema, a minha doença, que talvez seja esquizofrenia. A apatia tem aumentado e a falta de energia também, a minha capacidade de reacção aquilo que passa à volta de mim é cada vez menor. Tendo a desconfiar, cada vez mais, que é do remédio. Estou a meter-me num ciclo de isolamento cada vez maior, o meu equilíbrio é subtil. Só o remédio não vai trazer-me a sociabilização que me faz falta. Como posso eu socializar se eu sou uma nulidade social? Se eu não me exprimo? Se eu não tenho motivação social?
Sei que tudo isto pode ter começado lá bem no princípio da minha vida. A minha timidez natural foi cada vez tornando-se maior até se tornar no monstro em que está agora. Já pus a culpa ao meu pai. A minha mãe também terá a sua culpa. E a verdade é que me criei num ambiente que me tornou assim, calado. A afectação do meu raciocínio sei que cada vez é maior, e tenho medo do que possa vir a acontecer, ou seja: piorar. Eu tenho medo de falar. A repressão sobre a minha expressão, qualquer que seja o meu tipo de expressão, mas sobretudo no falar, é enorme. E o z****** não me irá curar este grande problema, ele paralisa-me ainda mais a fala, ele paralisa-me ainda mais o raciocínio. O z****** abre-me o apetite também, por isso a minha tendência é cada vez mais a de engordar. Precisava de acreditar em alguém, se houvesse alguém que na realidade me quisesse fazer bem.






z******=zyprexa


P.S 
Ficam as questões:
Trata-se a Fobia Social ou as Ansiedades Sociais com remédios tão potentes? Será mesmo necessário ser assim? Pressupõe-se, logo á partida, que a pessoa necessita mesmo do tratamento mais radical? Querem mesmo pôr uma pessoa funcional com estas drogas, quando as deixam ainda mais disfuncionais? Que grande confusão de Mundo, que Grande entropia de informação nestes dias, a quererem resolver as coisas da maneira mais estúpida ...


quinta-feira, 2 de novembro de 2006

A morte é inevitável

A morte é inevitável, assim como a decadência que a antecede. A minha tristeza consome-me desde o princípio da vida, como uma sina inevitável. Vejo todo o caminho por onde tenho trilhado. Vejo cada vez mais o passado e o futuro. Vejo coisas em que acredito e que talvez eu não devesse acreditar para ser normal. Mas eu não consigo evitar as variáveis que eu tenho em mim que são incomensuráveis. E quer eu faça isto ou eu não faça quer eu corra e me esconda quer eu me mostre ou esteja quieto o destino tende a aproximar-se cada vez mais. E eu cada vez mais o vejo, cada vez mais claro, nasci para algo, só ainda não consigo saber para quê, talvez para ser carne para canhão, talvez para travar uma batalha para que outros vivam.


            Resta dizer ‘ADEUS’ bem devagarinho, penso, sofrer bem baixinho. Sei que cada vez mais estou desligado do mundo, mas que interessa isso a quem quer que seja…Que poderá alguém fazer por mim. Se nem Deus em quem acreditei fortemente, no mais profundo do meu ser, me ajudou a triunfar, a ser feliz, sim porque triunfar nesta vida seria ser feliz. Aquele Deus que eu acreditei ver um dia e que me ajudaria, aquele castelo indestrutível que me apoiaria, foi a minha loucura. Eu vejo tudo neste momento como num relance, tudo o que me fez ser quem sou, o meu caminho até este momento, como se estivesse a morrer rápido, mas será tarde de mais? Talvez seja.


            Adeus sanidade, se é que alguma vez a houve, adeus.


Estou desesperado, não consigo me envolver, não encontro ninguém sincero com quem me envolver, já não sinto a sintonia dos homens. Se não houver alternativa, resta-me abraçar o meu destino com todas as forças que me restam, mas eu choro. Choro por ter sido tudo em vão. Nem pareço eu a dizer isto, quando já uma vez disse que a vida faria sentido tal como ela fosse. Agora não vejo isso assim. A apatia tende a consumir-me.



 


terça-feira, 31 de outubro de 2006

Eu-numa conversa com um grupo a que pertenço

Eu precisava de desabafar, e essa foi e pode ser a minha maneira de desabafar algumas das vezes por escrito, já que oralmente sou uma nulidade de expressão. Hoje já estou mais calmo. Muitos de vós podereis ter interpretando-me mal. Mas não era essa a minha intenção. Não quero ser eu a ovelha negra do grupo, ou o 'bode-expiatório' se bem que é isso que me acontece na minha vida cada vez que tento dar um passo na aproximação social (raras vezes escrevi para o grupo com o medo de ser criticado, com o medo de me expressar, como acontece a tantos de vós), sinto-me sempre o centro das atenções, tal como acontece ao vivo em muitas das situações, e sei que muitas vezes acabo por sê-lo, tão somente por esta fobia social que me destrui, me torna anti-social e que me leva a agir não no sentido convergente de aproximação com as pessoas mas num sentido divergente. Espero não ter passado a imagem de egoísta, porque na verdade sou solidário, tanto que, por exemplo, sofro com as pessoas que sofrem, e muitas vezes sofro mais porque sou confidente dos problemas de muita gente que sofre e fico calado sem me exprimir também, talvez tal como tantos outros. É verdade que olho muito para dentro, sim, mas como um exponencial introvertido. Não sou uma pessoa rica em termos monetários nem aspiro a isso, sou uma pessoa humilde que tenho um emprego que me dá a minha subsistência e que mantenho com dificuldade devido a esta fobia social ( Quanto medo não tenho de o perder e não ser capaz de arranjar outro), graças a Deus ainda tenho pais que me ajudam também e não sei o que seria sem eles. A minha solidão e isolamento vem de longe, sei-o, brinquei sozinho com as pedras e os paus do campo que para mim eram os miúdos que me acompanhavam nessas brincadeiras, praticamente até à idade escolar, 6 anos, e sabemos hoje o quanto importante são os primeiros anos das nossas vidas e como eles 'ditam' o  nosso futuro, talvez dai me tenha tornado uma pessoa individualista. Acredito também seriamente que este problema também passa pelos nossos genes, que trazem uma propensão para a timidez que é agravada com o ambiente vivido, talvez a nossa maneira de sentir já venha nesses genes. Depois disso é tudo um efeito bola de neve, uns problemas trazem outros, as discriminações sociais entre o garotio, um jeito que nos torna mais fechados, um pai rígido, uma série de coisas que enfatizam a nossa maneira de ser e que tantos o sabem acerca do seu passado. Talvez  tenha acontecido algo idêntico com muitos dos que aqui me lêem e dai as 'nossas' ansiedades sociais.

segunda-feira, 23 de outubro de 2006

Breves palavras

Só umas breves palavras. Breves como a vida. Mas longas de mais quando se sofre. Sofre-se pelo que se vê, e o que se vê não é nada de bom. Percebo muito bem ou cada vez melhor as entranhas dos homens. E não sou capaz de ser como eles. Eu sou eu verdadeiramente, mas não consigo interagir com os outros porque vejo tanta falsidade, tanta hipocrisia, que realmente ainda não vi ninguém que se aproveite (desculpem-me alguns que não consigo ver e que talvez sejam diferentes), como se só eu pudesse ser aproveitado. Talvez eu passe nesta vida sem ninguém, sem ninguém me ver, um ser perene e finito. Sim é verdade, não gosto do olhar das pessoas para comigo, sei o mal que elas podem fazer aquilo que não compreendem, não acredito nos homens nem no futuro. Ainda estou para ver quando uma minoria vence. Ainda estou para ver quando Deus nos vai salvar. A minha curta passagem por este mundo está a ser infernalizada por uma espécie de destino que é aquilo que eu sou e para onde vou. Luto contra ele desde que me conheço, e começo a crer cada vez mais que é uma luta vã em que sei que vou sair derrotado, porque as variáveis que me envolvem e me fazem seguir o caminho não desejado são incomensuráveis e as forças são cada vez menores. Mesmo no auge das forças não consegui fazer nada, não é agora que vou fazer. Não sei que foi feito dos meus instintos, é como se cada vez menos os tivesse, como se os estivesse a perder. E depois de muito pensar e associar o que foi e é a minha vida não prognostico nada de bom para o meu futuro. Queixei-me imenso, talvez não às pessoas certas. Cada vez sou capaz de discriminar a realidade, se é que alguma vez o consegui correctamente. Na minha cabeça há dois, aquele que eu sou e aquele que eu quero que eu seja e que controla o que eu sou. E tudo isto gera uma confusão, uma promiscuidade de pensamentos, uma profusão de identidades, uma complicação tal, que não me deixa interagir correctamente com o mundo, uma apatia tal, uma falta de emoções gerada por uma repressão tal que não me deixa ser coerente. E desculpem-me alguns homens de boas intenções, mas eu não acredito no homem (no geral), não acredito que me venha salvar alguém. Nada me pode salvar em particular. Já nem sei se Deus estará lá para me salvar, aquele Deus que me impingiram, feito à imagem do homem. Acredito na natureza e no universo e no espírito que dá vida a tudo o que existe (Esse deve ser o verdadeiro Deus), mas não no Deus salvador, que morreu para salvar os homens. Que me desculpem as pessoas simples e/ou humildes e/ou ingénuas, por aquilo tudo que eu disser ou fizer, por aquilo que eu disse ou fiz magoando-as e atropelando-as com palavras ou com silêncio, mas a minha luta neste mundo é de sobrevivência, e luto contra os que pensam ser grandes e que querem e julgam ser mais espertos do que os outros. E a minha luta é silenciosa, é cega, e com tendência a tornar-se surda e impalpável. É a luta do NIRVANA. E se Deus realmente existe, rezo-lhe para que me Dê lucidez e me deixe sair deste torpor em que penso viver e que me pode deixar na porcaria da ruas lamacentas aos lobos dos homens que não sabem o que os move e que fazem 1001 asneiras. Quero deixar de pensar que sou especial, quero ser normal e humano. Quero olhar normalmente este mundo dos homens. Gostava de repor a minha química corporal ao normal, mas apesar disso o pessimismo que me invade é mais forte porque sei o rumo que as coisas estão a levar e já faz muito tempo, mas só agora estou a compreender melhor todo esse complexo mecanismo, sistemas, que me envolvem e que sou eu. Ninguém é salvador de ninguém e cada um só tem aquilo que merece, talvez eu tenha o que mereço. Eu não posso salvar ninguém e nenhum homem me pode salvar. Há um Deus que dita qual vai ser o futuro de tudo e que tudo comanda. Acredito nisso, porque acredito que cada um de nós é parte Dele, e Ele tudo pode até mesmo matar-nos.

Essência


        Vamos ver o que vai subsistir depois de toda esta tempestade social. Isto não é só subir, evoluir, há-de haver um momento, que não sei se já começou, em que tudo há-de começar a decair. Eu já comecei há algum tempo. A minha mente desintegrou-se já há uns anos. Longe estou cada vez mais, mais longe dessa sociedade utópica. Já não tenho capacidade de absorção de tudo o que se passa nem de organizar toda esta profusão de informação, muita dela supérflua. Talvez tenha começado a decair demasiado cedo. Não cresci habituado aos movimentos sociais intensos que levam a que o mundo pule e avance.


Ver a luz


    Eu vejo, eu vejo os erros, eu vejo os problemas, eu vejo a causa já ultrapassada tal como tinha previsto. Num mundo de sonho há uma dura realidade, a realidade que está para lá dos nossos sonhos. Quando estes são ultrapassados, o que encontramos é a dura realidade, aquela que é feita de tempo e que nos envelhece.  É tempo de mudar a estratégia de vida e criar sonhos conscientes. E criamos sonhos passíveis de ser atingidos. Só se vive pelo outro e com o outro, mas o que fazer quando a sintonia não é possível, quando as pessoas andam desencontradas? Quando o platonismo tomou conta de nós? O romantismo corrompe o ser, o romantismo é escuridão constante onde a esperança de encontrar a luz é o móbil dele. Uma luz que se sabe não satisfazer essa necessidade de luz. 


 


 


quarta-feira, 18 de outubro de 2006

ser quem sou

Sei muito. Talvez saiba mais do que devia saber. Mas não dou vazão ao que sei. É como se tudo o que soubesse se voltasse contra mim. Os meus instintos primários e de sobrevivência estão seriamente danificados. Dentro de mim há uma conduta que não me deixa ser quem não sou, mas que na verdade não me rege. Esse ‘EU’ profundo tem medo de se manifestar, está desarmado e à mercê de tudo o que de mau há no mundo. Estou profundamente só. E tenho medo de tocar na ferida, ela piora quando se lhe toca. Já não espero que alguém me venha salvar, talvez não acredite num Deus como os homens o concebem. Acredito no Universo e na complexidade de tudo o que existe, no equilíbrio de tudo quanto existe, nos momentos perenes de perfeição, acredito que tudo tem um fim. Acredito em Cristo, não como um homem solitário que morreu para nos salvar, mas em Cristo, aquele símbolo que representa todo um conjunto de homens, uma minoria entre uma maioria, que sofrem neste mundo para outros estarem bem. Há muitos Cristos por aí. Acredito que eu sou um deles. Talvez esta minha sintonia seja a sintonia seja a sintonia dos que estão com Deus, dos loucos, dos deficientes, dos doentes de qualquer tipo que vêem o valor real da vida, e se desapegam da mesquinhice que une os homens saudáveis.


            Faço definitivamente parte daqueles que estão em minoria no mundo. Talvez eu seja a pessoa mais certa do mundo, detentor de grandes verdades, mas sou incapaz de impor o meu ego, de dizer: «este sou eu e isto é no que acredito». Estou dominado mas ainda com esperança de que um dia ainda consiga ser aquilo que eu quero ser, que tenha certezas e não tantas dúvidas. Se se é uma coisa não se pode ser outra, e eu sou aquele que vive dessintonizado com o mundo social que me envolve, com uma visão do mundo acima daqueles que me envolvem, acredito nisso. E eu procuro culpados, os culpados de tudo o que sou, mas talvez não possa culpar ninguém, a não ser aqueles que agiram sabendo o que estavam fazendo. Sei que vou ter de enfrentar uma grande solidão nos dias que se me seguem se eu não conseguir fazer algo para mudar o rumo das coisas, e se a sorte não estiver comigo. Esta minha falta de actividade – a minha passividade – mata-me. Sei que tenho uma grande afectação na minha mente e nos meus pensamentos, e isso não me deixa viver normalmente. Tenho cada vez mais problemas de auto controle. Estas minhas repressões mentais são terríveis. Mas eu sou quem sou, e sou o que sou faz muito tempo, e cada vez mais sou o que sou, como se realmente o destino existisse. E cada vez mais o meu pensamento gira à volta daquilo que me faz sofrer, numa espiral cada vez mais fechada, como numa obsessão. Não posso livrar-me daquilo que já passou por mim, as características de anti-social continuam marcadamente. O pânico pode vir a dominar-me, o pânico de estar só, isolado do mundo. Eu avalio tudo o que se pode passar na minha vida, de inúmeros ângulos e perspectivas, e sei cada vez mais a minha influência no mundo e a influência que o mundo tem em mim. Eu apenas quero paz e serenidade para viver, eu não mereço sofrer tanto, este sofrimento desvalorizado pelos outros. O meu sofrimento tem muito mais valor do que se possa pensar.         O sofrimento de toda a gente tem valor e deve ser respeitado.

Medo das divagações

A terra prometida. Qualquer coisa serve para começar. Uma música: Reamonn. Mas tenho medo das divagações, tenho medo de me perder em mim. Até tenho medo dos factos. E é um facto que eu ando desligado da conduta que rege este mundo, a conduta que rege os homens. É como se eu visse de uma perspectiva superior os homens, como se estivesse num nível superior onde, ainda, poucos estão. É como se eu andasse perdido. A apatia tende a tomar conta de mim, a apoderar-se de mim e a consumir-me. “I´m falling down, please don´t let me fall”, Reamonn. Talvez seja uma mania das grandezas, talvez seja hipocondríaco. Neste momento já não me interessa lutar contra as causas do que sou, de nada serviria, é impossível mudar o passado. Resta agarrar-me ao que posso fazer hoje e o que poderei fazer amanhã. Eu vejo mas não posso mudar as coisas como se eu estivesse neste mundo virtualmente. S.O.S. A minha mente está mais fechada. A minha expressividade está cada vez mais reduzida, o meu pensamento manifestante, que se manifesta, gira cada vez mais à volta do mesmo, a minha incapacidade de expressividade, a minha futura nulidade expressiva, a minha incapacidade de interagir com outras pessoas, a minha nulidade de gostos que não se formaram, a falta de personalidade. Mas algo evolui, a minha inteligência acerca do que se passa no meu interior e do que se passa no interior dos homens. A minha esquizofrenia ainda existe no meu pensamento. Mas porque eu vejo como vejo, meu Deus? Porque me parece estar tão perto de ti e ao mesmo tempo cada vez menos acredito em ti como minha concepção. Porque me sinto cada vez mais só, e ninguém me toca no coração em especial. Algo lá bem no princípio ditou o caminho que eu iria seguir, no princípio da minha vida. Porque não posso eu respirar normalmente, porque sou emocionalmente contido? Porque quanto mais quero ser uma coisa, mais o inverso sou. Porque não posso eu ser feliz como sou?



            Nada me demove daquilo em que acredito. No fundo acredito que o homem é a destruição (não sei porque absorvi tão profundamente o ideal cristão que me leva a tal ideal). Mas ninguém pode parar todo este rumo caótico que tanto pode dar para um lado como para outro. Acredito que caminhemos por onde caminhemos, vamos a dar ao mesmo destino, tal como sinto eu o destino que a minha vida tem, porque não podemos mudar de um momento para o outro. Esta vontade de mudar tudo numa só vida, que acabamos por não conseguir absorver, é inerente ao homem. Este querer tudo numa só vida é destruidor. Se eu fosse maleável e adaptável eu seria mais feliz, mas eu sou rígido e as novidades fazem-me confusão. Quero acreditar que possa tirar alegria, ainda, da tristeza (shiver- codplay), que me consome. Se bem que não acredito. Talvez eu tenha que ser realista com tudo o que faz e é a minha realidade, e aceitar que basta viver sem grandes problemas para ser feliz. “It’s all right – Reamonn”.  


Mar encapelado dos sentimentos

Viajando pelo mar encapelado dos sentimentos, numa noite escura como breu, atormentado pela tempestade que quer destruir a minha embarcação, resta uma bússola que apenas consigo tactear, porque não há uma luz para me orientar. Nesta viagem interminável, conforta-me a esperança fugaz de saber, a inteligência e a experiência, que depois da tempestade vem a bonança, porque a tempestade não dura para sempre, todo o equilíbrio é reposto gradualmente, até ao nirvana, o equilíbrio absoluto. Nesta tangencia constante e obscura do infinito, no dia a dia, na senda do porvir, há uma força incomensurável e inexplicável que nos levanta do abismo e que nos abandona quando quer, a seu bel-prazer. Vogando por esse oceano que é a vida, na busca do paraíso, uma terra, um porto onde atracar, tenta-se sem parar, lutar, contra essa tempestade que mais hora menos hora há-de acalmar. E já no fim da noite, depois do temporal, com uma baixa moral, aparece um navio sem igual, que nos resgata não sei se para meu bem se para meu mal. E tudo acaba sem medo, foi apenas um pesadelo, agora posso respirar.

terça-feira, 10 de outubro de 2006

Ironia do tempo








O tempo passa, a vida é uma chalaça, passa devagar, não tenho vontade de rir, mas sim, de chorar. Preciso de ar, de asas, de voar, navegar, além – mar além – mar, ir e voltar, rir sem parar. Chiu! É hora de descansar, repousar, num lugar, difícil de encontrar. Descansar estes ossos, partidos de tanto lutar, contra a vida errante, contra a antítese da vida, contra o paradoxo. Que a ruína me levante, que o brilho do sol resplandeça neste trilho fascinante, como antigamente. Venha a chuva a seguir, o trovão cintilante, venha o tornado desesperante, venha o furacão alardeante, ai! Ai! Que vai destruir tudo, vai pisar o mudo ser que vagueia no seu inseguro bote, vai pôr tudo a trote, vai fazer pensar no mundo errante, e que nada mais se alevante.


            Tudo foi belo um dia, tudo fez sentido uma vez, a exaltação máxima, o êxtase deu-se para mim, não sei se já se terá dado para o mundo. Nunca os homens estiveram satisfeitos, alguns preocupados sofriam calados, porque só os que brilhavam como ouro é que venciam. O homem que há-de estar mais só que o nirvana do universo.


Extinto, distinto, a voz da verdadeira sabedoria toca naqueles que se propõem ultrapassar os seus limites. O infinito está aí, o nascer e o morrer darão sentido a uma vida sem significado real. Mas a certeza, onde está ela? Só há a certeza de ainda não ter encontrado o que procuro, e apesar de não ser completamente verdade já ultrapassei o mundo há procura daquilo que faria o sentido da minha vida: o amor.


 





 





 

terça-feira, 3 de outubro de 2006

Junho 2006 - sentir-se assim

Junho 06


 


 


Não sinto vontade em absoluto de falar. Sinto falhas nos meus sentimentos e emoções. Sinto um vazio enorme, um enorme sentimento de perda, perda de juventude, perda de vida como se fosse um ser vegetal, sinto-me tão pequeno em tamanho neste grande universo, como me sinto como se fosse uma criança que não consegue crescer. Não tenho ninguém para quem falar de sentimentos, emocionar-me naturalmente. Sinto um enorme peso em cima de mim, tudo afastar-se de mim, e não consigo alcançar alguma mão que me queira ajudar. Sou eu, sou eu quem fujo e me isolo e não consigo evitar, parece-me tudo em vão, nada faz sentido, vejo tanta coisa, mas não vejo ninguém suficientemente forte para me levar ao colo e transpor esta barreira que me destruirá. E Quanto mais penso mais angustiado fico. Quanto mais me mexo mais enterrado fico. Não sou capaz de lutar, estou paralisado: pela doença, pelos remédios, pelo medo, pelo pensamento antecedente, pelo bloqueio mental. Mas que adianta gritar para o Mundo se o Mundo está cheio de doentes, se os que não estão doentes não compreendem, como se quisessem compreender, e são eles que inventam a medicina, inventam a ciência que tudo pode, inventam doenças sem fim, como se o que outrora foi normal já não o fosse e inventam as soluções para todos os males como uma panaceia. Desabafos sem fim, estes, os meus.


            Eu, que me juntei aos fracos, que me senti forte para ajudá-los – o quanto errado estava… – eu que pensei que estava a seguir um caminho verdadeiro, eu que me embebi do meu sentido cristão e acreditei na palavra dos homens e não da de Deus. Eu que cheguei a este ponto sem retorno, sem nunca fazer mal a ninguém sendo apedrejado por palavras vãs, pelo mau feitio, sendo maltratado pelo meu feitio fraco e humilde, pelo meu jeito, desajeitado, pela minha condição, abandonado. Será que ainda posso sentir alegria, será que isso ainda me é permitido? Eu que me senti forte e era o mais fraco… Eu que aparento normalidade e sou o mais anormal entre as pessoas na hora de manifestar.

domingo, 24 de setembro de 2006

Domingo tristonho

            Setembro 2006


 


            É domingo, todos os domingos são deprimentes para mim. Domingo é sinónimo de festa na tradição, e eu não gosto de festas. Eu estou em baixo. Mas não foi a causa um domingo, não, a causa está no mais profundo do meu ser que se perdeu por esses domingos afora, e me pôs à nora. Eu sinto-me lixo. Mas que é isso, isso que me faz sofrer desta maneira sem razão, eu estou numa prisão? Eu sinto-me bloqueado. Mas que sentimento é esse que me faz andar como que mijado? Eu sinto-me com medo de falar. Mas que se passa comigo que mal consigo respirar? Eu sei a causa de tudo, eu consigo vislumbrar, mas aquilo que me provoca a emoção mais forte é quando me sinto a apagar. Os dias passam, para uns, para mim trespassam-me, como uma flecha que eu nunca senti, mas na verdade o sangue me faz jorrar. Eu falo no meu pensamento, eu falo a toda a hora e a todo o momento, mas a única maneira do que eu me sinto é como um verdadeiro jumento. Tristeza vã e solitária que me possuiu, já há muito tempo e que me faz fugir de todos, sinceramente, eu estou metido em lodos. Eu preciso de caminhar, ar, amar, olhar, desertar, prosar, lembrar, chorar primeiro para depois alegrar, sentir a brisa do mar, deixar de divagar, não me chatear, não me preocupar, desconcentrar ou concentrar (?). Às vezes bem me tento alegrar, quando alguém me tenta abordar, mas estou a ser falso, a minha tristeza consome-me como a uma vela ao ar. Eu sinto o expoente da melancolia, o romantismo, a noite que não deixa antever o dia. Eu sinto por muitos, eu sinto a minha alma cândida ofuscada com dor, mas que posso eu fazer pelos outros, se em mim nem o meu amor. Talvez ele não seja para nós, seja para os outros, mas como se pode dar a quem não estende a mão para o receber, como que orgulhoso com o seu doer. Insatisfeito, assim me tornei, neste percurso por onde trilhei, insatisfeito comigo por não alcançar aquilo que me propus fazer, insatisfeito e sem conseguir ou por não conseguir fugir, a uma espécie de destino que me tem levado a seu bel-prazer. Propus-me viver alegre, sempre a sorrir, por um momento consegui-o, mas a certa altura já era a fingir. Perguntei a Deus, o porquê de haver um destino, alguém me sabe responder? Deus omnipotente, não quererá ele fazer sofrer a gente? Justo com ou por pecador? Se pega a dor, eu sou pecador então. E como isto que acabo de dizer, assim é o meu sofrer, dou o dito por não dito, aquilo em que acreditei, eu abanei como um terramoto interior, e depois de muito ter desabado, aqui estou eu desanimado, estupidificado, desorientado. Penitência Senhor penitência, que agora estou doente, neste leito ainda quente, mas até quando? Penitência por algo que eu fiz, ou que eu nunca fiz? Já não acredito, no mais profundo do meu ser, esta é a verdade que me destrói, não acredito no objectivo da minha vida, se é que o há, escrever para o infinito, para o nirvana da existência humana. Mas nunca o saberemos, o fim, nunca o compreenderemos, o princípio, e ainda bem que é assim, tudo tem o verdadeiro sentido na abalada e na chegada, quanto ao resto é tudo água a passar pelo ciclo da vida, o efémero ciclo, sim tão curto como dia, mas tudo com a medida certa. A minha vida tem a medida certa. Já ultrapassei os meus limites faz tempo, eu morri para voltar a nascer, assim é o viver de alguns. Este é o meu viver.


quinta-feira, 21 de setembro de 2006

Fevereiro 2006

                                              Fevereiro 2006

 

            A sintonia das ondas, as boas vibrações. Um mundo de absorção onde cada um quer açambarcar o próximo, com as suas ideias, os seus ideais. Um mundo à parte onde tudo tem um sentido diferente. Interpretações e mais interpretações, perspectivas e perspectivas. Incompreensão. A essência do ser humano. Um mundo de sonho, um mundo inimaginável. Um mundo onde se espera a justiça de Deus. Um mundo onde não reina a moral. O caos do mundo. As atrocidades que se cometem. A loucura reina nesta selva humana. Mas eu ainda continuo à espera de justiça, por um Deus que teima em não chegar. Sei que vou esperar cada vez menos. Até que há-de chegar um tempo em que esperar já não fará sentido. A capacidade de antecipação é a capacidade de enfrentar o que está para vir e de mudar o que com que nos deparamos. Mas eu tantas vezes vejo a pedra à frente onde vou tropeçar e não consigo desviar-me, como se houvesse um destino, eu que tantas vezes dou pelas coisas imediatamente após terem acontecido e vejo que não me apercebi a tempo delas como se houvesse algo mais forte do que eu, que em mim permanece, e não me deixasse percebê-las por antecipação, algo mais forte do que a minha inteligência que não me deixa prosperar. Estou condicionado pelo que me rodeia, pelos genes que se manifestaram, desapropriadamente. Estou out. Esta é a minha vida, este é o meu mundo, e na minha vida e no meu mundo sou eu que reino. Não me posso desfazer daquilo que fui completamente, bem ou mal eu sou o que fui. Resta um caminho pela frente, mais ou menos longo, mais ou menos curto, que eu terei que percorrer sem olhar para o lado ou para trás à espera que o passado de felicidade volte. E posso sempre recordar aquilo que vivi, o cheiro terráqueo que me invade, até posso ver aquilo que não vi, sentir o que não faz parte de mim. È como se eu compreendesse mesmo aqueles que não conheci, a sua essência, a sua existência. Desde Fernando Pessoa a Kant, desde Jesus até mim. É como se eu ainda não tendo visto já tenha sentido.

quarta-feira, 20 de setembro de 2006

Ainda em 2003

        È um facto, pode ser uma repetição, mas o tempo passa, inexoravelmente. Da mesma maneira passam muitas coisas na nossa cabeça, muitas ideias, pensamentos e situações que avaliamos vezes sem conta. Às vezes parece-nos que passa depressa demais –quando por exemplo estamos bem dispostos e/ou a fazer algo que gostamos- , outras vezes parece que nunca mais passa, normalmente nas horas de sofrimento em que um segundo parece uma eternidade. Dou o tempo por bem ocupado quando consigo dormir bem. Já quando estou acordado não sei de que maneira será melhor passar o tempo. Daí que em casa o melhor que tenho a fazer é dormir. Penso, há tanta coisa que se podia fazer, mas não, o que me sabe melhor é dormir. Ou então pensar, pois é, penso muito, penso demais. É este meu pensamento que me mantêm lúcido e é ele que por vezes me parece levar à loucura. Penso compulsivamente. Assim como deve haver pessoas que falam compulsivamente - acho que o meu pai é uma dessas pessoas porque em presença de alguém tem sempre que falar - , eu sou um calado compulsivo, e simultaneamente um pensador compulsivo. E acho que tenho pensamentos magníficos quando sinto compreender a realidade que me rodeia, quando compreendo o meu passado, quando descubro ao mesmo tempo aquilo que sou e o motivo por que o sou. Mas sinto uma terrível insatisfação por não conseguir exprimir todo esse pensar, esse entendimento das coisas. E neste momento sinto-me apertado pelo tempo, ele a passar e as ideias não fluem, aliás como sempre que me quero exprimir. É terrível isto que se passa comigo. È uma sensação de estar a gritar bem alto e ninguém conseguir ouvir, como se eu estivesse noutra dimensão paralela aquela em que os outros andam, e que ao mesmo tempo não me vissem. Mas ao mesmo tempo desejo passar desapercebido. O meu organismo dispara quando alguém está a olhar para mim e quando ao mesmo tempo eu me consciencializo disso, como se tivesse medo de ser avaliado negativamente. É como se nesse momento eu deixasse de respirar. E com isso, na tentativa de suster a ansiedade é quando ela se agudiza.

Corria o Novembro de 2003

11-11-03

 

 

 

            Tantos pensamentos dispersos, tantas ligações entre eles. Fico stressado quando me tenho que exprimir, como se estivesse preso em mim. A voz falta-me. O rubor assalta-me à face. Ando bloqueado, ainda, é isso. Talvez eu nunca consiga mudar esta maneira de ser que está tão intrincada em mim, dentro da minha cabeça, mudar como eu queria pelo menos. E Esta incomunicabilidade deixa-me louco, pelo menos faz-me imensa pressão nesse sentido. Esta incapacidade de interacção com alguém é terrivelmente assustadora, a começar pelos pais, que já não têm capacidade, há muito tempo, de me compreender, e ter de viver com eles. Estou a melhorar, devagarinho, mas pergunto-me se algum dia chegarei a estar suficientemente bem, comigo mesmo também, para poder seguir a minha vida, só ou acompanhado. A minha capacidade de afirmação é diminuta, e isso têm-me dado imensos problemas sociais. Ando desintegrado. Estou continuamente a cultivar os meus sentimentos, como se fosse um narcísico. Bem me podem chamar narcísico se isso for sinónimo de introvertido. Mas pela definição que está no dicionário, narcísico não posso ser, porque eu não tenho amor excessivo pelo meu aspecto físico, pela minha própria pessoa, não estou “enamorado de mim próprio” como explica o dicionário. Talvez até por eu ter uma ideia negativista de mim próprio é que eu tenho determinados problemas. Na realidade sou introvertido, mas não narcísico. O diagnóstico implícito que tive do meu problema, esquizofrenia, pesa sobre a minha mente indefesa. Tenho consciência de tanta coisa, e não as consigo verbalizar, nem sequer de resolver certos casos que descobri as causas. Realmente somos tão pequenos que pouco podemos fazer para mudar o mundo, até pouco podemos fazer para mudar – mo - nos a nós próprios. Por exemplo eu queria ser um bom conversador, já tomei consciência há muito tempo (Embora seja   relativo dizer que é muito ou pouco o tempo) de que falava pouco, mas não consigo fazer isso, tornar-me conversador de um dia para o outro. Até porque não tenho disposição para isso, logo tentar ser isso é ir contra a corrente. Tenho a sensação de me estar sempre a repetir cada vez que escrevo no papel, parece compulsivo, há tanto para dizer mas só me ocorrem sempre os mesmos pensamentos, quando não é que a mente fique em branco. Mas é a verdade e tenho que encará-la de frente.

            Noto que há nos meus problemas uma relação de vários factores ligados entre si formando uma cadeia, um ciclo vicioso do qual tendo a sair aos poucos.

           

O meu primeiro blog

    E depois de uma página feita (  http://johnybigodes.planetaclix.pt/uma.html  ) -simples mas profunda (na minha maneira de sentir) - façam-me o favor de a ver, vejam se entendem alguma coisa- aqui estou eu para blogar. Pois é, este vai ser o primeiro, e portanto isto é só uma introdução. Espero escrever palavras profundas, que toquem no mais fundo de cada um, se é que alguém irá entender o que eu digo ou se irá interessar pelo que eu escrevo. Vamos ver no que isto vai dar.


    'Somebody to love', amor: é o que todos procuramos sem findar, porque enquanto há vida há esperança, que a esperança prevaleça então, neste mundo virtual, ao menos que seja aqui, já que tudo lá fora é frio e pareçe não ter sentido.


    Então até breve. Podem comentar.