Sei muito. Talvez saiba mais do que devia saber. Mas não dou vazão ao que sei. É como se tudo o que soubesse se voltasse contra mim. Os meus instintos primários e de sobrevivência estão seriamente danificados. Dentro de mim há uma conduta que não me deixa ser quem não sou, mas que na verdade não me rege. Esse ‘EU’ profundo tem medo de se manifestar, está desarmado e à mercê de tudo o que de mau há no mundo. Estou profundamente só. E tenho medo de tocar na ferida, ela piora quando se lhe toca. Já não espero que alguém me venha salvar, talvez não acredite num Deus como os homens o concebem. Acredito no Universo e na complexidade de tudo o que existe, no equilíbrio de tudo quanto existe, nos momentos perenes de perfeição, acredito que tudo tem um fim. Acredito em Cristo, não como um homem solitário que morreu para nos salvar, mas em Cristo, aquele símbolo que representa todo um conjunto de homens, uma minoria entre uma maioria, que sofrem neste mundo para outros estarem bem. Há muitos Cristos por aí. Acredito que eu sou um deles. Talvez esta minha sintonia seja a sintonia seja a sintonia dos que estão com Deus, dos loucos, dos deficientes, dos doentes de qualquer tipo que vêem o valor real da vida, e se desapegam da mesquinhice que une os homens saudáveis.
Faço definitivamente parte daqueles que estão em minoria no mundo. Talvez eu seja a pessoa mais certa do mundo, detentor de grandes verdades, mas sou incapaz de impor o meu ego, de dizer: «este sou eu e isto é no que acredito». Estou dominado mas ainda com esperança de que um dia ainda consiga ser aquilo que eu quero ser, que tenha certezas e não tantas dúvidas. Se se é uma coisa não se pode ser outra, e eu sou aquele que vive dessintonizado com o mundo social que me envolve, com uma visão do mundo acima daqueles que me envolvem, acredito nisso. E eu procuro culpados, os culpados de tudo o que sou, mas talvez não possa culpar ninguém, a não ser aqueles que agiram sabendo o que estavam fazendo. Sei que vou ter de enfrentar uma grande solidão nos dias que se me seguem se eu não conseguir fazer algo para mudar o rumo das coisas, e se a sorte não estiver comigo. Esta minha falta de actividade – a minha passividade – mata-me. Sei que tenho uma grande afectação na minha mente e nos meus pensamentos, e isso não me deixa viver normalmente. Tenho cada vez mais problemas de auto controle. Estas minhas repressões mentais são terríveis. Mas eu sou quem sou, e sou o que sou faz muito tempo, e cada vez mais sou o que sou, como se realmente o destino existisse. E cada vez mais o meu pensamento gira à volta daquilo que me faz sofrer, numa espiral cada vez mais fechada, como numa obsessão. Não posso livrar-me daquilo que já passou por mim, as características de anti-social continuam marcadamente. O pânico pode vir a dominar-me, o pânico de estar só, isolado do mundo. Eu avalio tudo o que se pode passar na minha vida, de inúmeros ângulos e perspectivas, e sei cada vez mais a minha influência no mundo e a influência que o mundo tem
tens um alcance de ver e sentir fenomenais. só te falta o desapego. o desapego em relação a tudo o que és, pensas, sentes e acreditas. a desidentificação com tudo isso. é isso que liberta: o saber e encontrar a consciência de que nós somos somente o espaço onde tudo acontece.
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