Repito-me.
E ao repetir-me captais a minha essência. Ou será mesmo que a captais? Ou captareis
o meu comportamento, a coerência dele, sim, isso talvez. No entanto não tenho
tanta gente que capte quem eu sou no mais íntimo de mim. Trilho por caminhos
que parecem estar pré-determinados como sempre os achei, toda a minha vida
parece definida por regras que não consigo aceitar. Porque não consigo mudar a
minha sorte? Ou talvez o meu humor? A minha criatividade? Na verdade que valho
eu para este Universo? Com a repetição cimentamos quem somos, aquilo que
sabemos e que, na verdade, é ultrapassado (esse saber) num determinado período
de tempo. Sons que se ouvem sem parar, dia após dia. Musicas que nos captaram a atenção, sons que parecem ditar o nosso
futuro, quiçá o nosso destino, e que nos tentam dizer o que é o bem, o caminho
a seguir – para mim foi assim, e ainda o é em grande parte. Ouvi-as,
fascinaram-me inconscientemente, apesar de não perceber literalmente a letra
(estrangeira) que transmitiam na altura, e surpreendo-me comigo próprio e com
um sentido misterioso que me envolve quando as reoiço e lhes traduzo a letra,
sentindo no entanto a perda da emoção que tende a fugir com o passar dos anos e
maravilhando-me ainda mais com um sentido que não posso descrever e que me
prende, a perscrutar o seu significado; porque eu compreendia as músicas não
sabendo a letra, na altura? Agora posso confirmar, eu compreendia o sentido da
música sem compreender a letra. Tudo isto, ainda sem falar de como elas me
influenciaram, como ditaram aquilo que sou, como se tivesse que acontecer, ao
surgirem em momentos ‘chave secreta’
da minha vida. Penso constantemente na magia de ser criança e jovem,
efetivamente é o conceito de magia que eu atribuo a tal estado de
compreensão emocional, sem ainda ter grande racionalidade. Contudo sinto que
foi uma magia solitária a minha, como sempre o afirmei, uma magia
marginalizada, invejada muitas vezes talvez; uma magia inultrapassavelmente
ingénua e que se mantém assim, ingénua, na busca dos mesmos sentimentos, para
que os possa reviver até não mais poder para, consequentemente, compreender o
que tais sentimentos e emoções significam; uma magia de ver o mundo, o
Universo, tudo o que me envolve com outros olhos, sentindo com outros sentidos,
os meus olhos, os meus sentidos, tão próprios, tão únicos; (sem querer ser
narcísico) ao mesmo tempo comungando do invisível que une o homem, o psiquismo
incompreendido, a ligação com tudo o que existe na base de que há algo que
define a unicidade da ligação da vida deste Universo. Ainda não aceito as
regras do jogo da minha vida, que por um lado parece ser tão bela, num tempo
tão único, e ao mesmo tempo me parece surreal, em que sei que não a compreendo
como seria normal senti-la e que seria correto se me sentisse bem e ainda mais
livre sendo autossustentável correndo ao sabor da maré mesmo que a minha direção
não fosse essa, compreendendo a mundanidade das pessoas, o senso comum.
Coloquei e coloco grandes questões acerca da minha vida, que parecem não ter
sentido para muita gente, mas que têm sido fulcrais para ir vivendo e tentando
compreender as coisas ao se chegar a um determinado ponto, a altura certa de
compreender, depois de tanto analisar tudo na minha mente. Visto que me expresso tão incomumente, visto que tenho dificuldades
de expressão, eu absorvo mais, muito mais do que posso, até ao ponto em que eu
pareço rebentar de tanto absorver, vendo eu quem absorva muito mais sem ter
desequilíbrios, tão naturalmente, que os invejo.
O som faz-me mover, reanima-me,
relaxa-me, faz-me esquecer aquilo que é tão difícil de superar, aquilo que se
calhar não vou superar. Os sons familiares fazem-me reviver e remodelar-me a
mim próprio. Num mundo de evolução e
aperfeiçoamento eu sou apenas mais uma experiência do cosmos para atingir esse clímax
de aperfeiçoamento, algo descartável porque não feito corretamente, vivendo
na ideia de que há um sucesso a ser alcançado, uma realização a ser obtida, que, na verdade, nasce em grande parte da
naturalidade de um ser, não exatamente da experiência de uma vida, isto é, se
bem que se podem atingir patamares altos, o sucesso depende de causas que nos
ultrapassam. Eu tenho as músicas da
minha vida, tantas (não sei escolher em particular, não sei restringir a minha
vontade de ouvir, saber, gostar – dai também parte dos meus problemas de
divergência do pensamento e dos gostos que me leva a que não viva numa vida
ilusionáriamente feliz); Agora o meu novo repertório tende a ser muito menor,
mas por mais que vivesse não haveria música que me satisfizesse, e ainda assim
gosto do que é bom, acreditando que existe um ‘bom’ (uma boa música) ainda que
ultrapassável no tempo. As músicas fizeram-me sonhar, no amor, na plenitude de
sentir a vida, e no entanto falhei, apesar de nunca ter estado numa situação
realmente de desistência completa da minha vida, havendo sempre um buraco onde
me meter até agora, havendo sempre uma hipótese de fuga do mal que nos quer
envolver. Perdi contudo também o sentido prático da vida, aquele que me daria, certamente,
uma recompensa imediata, vivendo eu, assim, na incerteza de que será real o que
sinto (?), quero dizer, faz mesmo sentido? ‘Existência’ é música para
os meus ouvidos.
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