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segunda-feira, 2 de maio de 2011

Desde o meu âmago, para sempre

      Mais uma primavera que ocorre com toda a sua plenitude, aqui em Portugal, numa terra do interior. Mais um dia de encontro, meu, com a escrita, na esperança de encontrar uma conexão virtual neste mundo de difícil realidade humana, realidade social. O tempo foge, e nem mesmo esta minha capacidade de perscrutar de uma maneira singular a passagem do tempo me faz sentir actualizado como sentia estar naturalmente (apto) quando estava crescendo. Sim, estou envelhecendo e admito-o a mim próprio, a inevitabilidade deste acontecimento que me deixa feliz e triste ao mesmo tempo. Gosto do encontro comigo mesmo, habituei-me a gostar de mim, a tentar melhorar-me a cada dia que passa, e ao ver e sentir a maneira como muitos outros se dão com falsidade e segundas intenções nos seus actos e atitudes eu me retraí e me fechei sobre mim mesmo, não confiando absolutamente em ninguém, em determinado momento da minha vida, que agora estou pensando. No entanto sei que, necessitamos uns dos outros e isso faz com que sejamos empáticos mesmo sendo indiferentes de carácter, sejamos pacíficos mesmo sendo guerrilheiros por natureza, a ceder quando parecemos ser, até, inexpugnáveis, porque aquele que tem amor à vida própria é levado a ter compaixão do inimigo, nem que seja na derradeira hora, nem que seja só porque o inimigo seja a verdadeira razão do existir, e sem ele se tornava vazia a própria vida. Diziam-me, por vezes, que era a minha auto-estima que estava em baixo quando por vezes me queixava de um torpor que me faz vacilar, ainda, cada vez que tento sociabilizar; mas não, eu gosto imenso de mim próprio e nada tem a ver com a estima que sinto por mim quando por vezes me sinto mal, o que me faz sentir tal torpor é a incapacidade de comunicar, a incomunicabilidade com quem me rodeia (a falta de envolvência sentimental, a falta de envolvimento emocional, a falta de partilha daquilo que sinto, a falta de tolerância para comigo da parte dos outros e a incapacidade de sentir a tolerância no âmago de mim, quando a há; a falta de energia mental comunicativa), muitas vezes devido à tal falsidade que faz parte das pessoas e da qual não criei defesas, capacidade natural de reacção. Não, não é falta de auto-estima, porque até me sinto um ser superior no meu íntimo, modéstia à parte. Simplesmente não me encontro com as pessoas facilmente, até talvez porque quem parece falso sou eu. O mundo corrente é feito de imagem e individualidade. Aprecio a individualidade, mas não a falsa aparência, o ‘faz ver’ que decorre no mundo da imagem, hoje em dia. Não me quero entregar facilmente a ninguém, não quero partilhar a minha vida com intolerância para com o que sou e quem sou, porque a intolerância de meu pai para comigo há-de marcar-me para toda a vida, e não admito que mais ninguém o faça, que ataque a minha vulnerabilidade – assim estou sozinho. As pessoas não são perfeitas – mas não se podem tolerar acções e perdoar de qualquer modo, facilmente, só por se não ser perfeito – nem a humanidade cria seres perfeitos. Na verdade, dentro de um ser que tenta ser funcional, as marcas psicológicas, negativas, do crescimento ficam connosco para a vida, e valem-nos as positivas que criamos e/ou que nos possuíram naturalmente para combater todas essas mágoas que não desaparecem, até porque a fonte da adversidade continua a brotar a sua água impura e imprópria para a nossa saúde. Quantos nascem sem amor, e a quantos lhes é negado o fruto da vida, as necessidades básicas da vida, em nome de uma cultura adversa ao seu ser, revoltando-se muitos deles (os que nascem sem amor) contra tudo, porque não conseguem encontrar ou ir ao fulcro daquilo que é a razão da sua dor. Ah! Mas eu não! Eu quero ir de encontro às origens dos meus males, quero fazer uma auto-terapia intensiva, quero curar a minha dor, lutando contra aqueles que a provocaram e contra aqueles que a agudizaram, sabendo o que estavam a fazer, aqueles que merecem o meu desprezo, aqueles que merecem a ira da minha justiça. Como é evidente, a minha revolta é imensa. Foi a minha vida que esteve em jogo, todo este tempo. Toda a minha simplicidade transparece nos momentos sociais, toda a falta de ‘jogo de cintura’ vem ao de cima na disputa de momentos plurais (multi-indivíduos), toda a minha debilidade sócio-mental e sócio-emocional é óbvia; mas todas estas debilidades são transfiguradas, pelo menos tenta-se, através de uma atitude emocional de quem se respeita a si próprio acima de tudo, como respeita a envolvência que está ocorrendo e os outros verdadeiramente, que tem valores pessoais e inabaláveis dentro de si, assim como uma inteligência própria e de conhecimento que não deve ser desprezada – pelo menos é assim que me vejo em tais situações de vil baixeza da minha pessoa. Questiono a mágoa da minha dignidade e sinto que ainda não vejo justiça à vista da maneira como a feriram; focalizo uma imagem de onde poderá ter vindo toda essa mágoa e visualizo a falsidade de quem a criou e que me levou a generalizar como sendo o mundo o culpado daquilo que eu sinto e senti.


     Quero acreditar que não estou sozinho, que pertenço a alguém que faz parte do meu clã inteli-emocional, que ainda encontrarei paz e plenitude na minha vida, que muito do que credito, senão tudo, é possível. Assim, sinto, a minha essência a perdurar no tempo, a minha existência íntima a influenciar os tempos que ainda faltam a esta humanidade, a dialogar como passado e o futuro; passo a passo, a prosseguir o eterno caminho da psique humana, que tenta apagar a pisada da minha existência, em vão. Tenho esperança, no fundo de mim, de que posso encontra ainda o sentimento de pura liberdade neste mundo, nem que seja modelando palavras que gostaria que se tornassem transmissíveis, verbalizáveis. Sinto na alma que ainda posso harmonizar a minha humanidade revoltada por algo ou alguém que deveria me ter, pelo contrário, apaziguado a dor da existência, porque ele tinha a capacidade disso…mas faltou-lhe a humildade.

2 comentários:

  1. Comento em excerto4 de maio de 2011 às 11:08

    "Não haver, pelo menos só para mim, um paraíso feito disto! Não poder eu encontrar os amigos que sonhei, passear pelas ruas que criei, acordar, entre o ruído dos galos e das galinhas e o rumorejar matutino da casa, na casa de campo em que eu me supus... e tudo isto mais perfeitamente arranjado por Deus, posto naquela perfeita ordem para existir, na precisa forma para eu o ter que nem os meus próprios sonhos atingem senão na falta de uma dimensão do espaço íntimo que entretém essas pobres realidades...
    Ergo a cabeça de sobre o papel em que escrevo... É cedo ainda. Mal passa o meio-dia e é domingo. O mal da vida, a doença de ser consciente, entra com o meu próprio corpo e perturba-me. Não haver ilhas para os inconfortáveis, alamedas vetustas, inencontráveis de antes, para os isolados no sonhar! Ter de viver e, por pouco que seja, de agir; ter de roçar pelo facto de haver outra gente, real também, na vida! Ter de estar aqui escrevendo isto, por me ser preciso à alma fazê-lo, e, mesmo isto, não poder sonhá-lo apenas, exprimi-lo sem palavras, sem consciência mesmo, por uma construção de mim próprio em música e esbatimento, de modo que me subissem as lágrimas aos olhos só de me sentir expressar-me, e eu fluísse, como um rio encantado, por lentos declives de mim próprio, cada vez mais para o inconsciente e o Distante, sem sentido nenhum excepto Deus."
    L.do D.

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  2. Belo enxerto da biblia que veio ao meu encontro hoje dia 8 de abril de 2013. Um obrigado que só hoje o poderia dizer...

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